1984: Bernard, Bernardinho & Cia no Palácio dos Esportes

10 de Novembro 2020 - 00h01
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Em 1984, o voleibol passou a ser, definitivamente, a segunda preferência esportiva brasileira, atrás somente do futebol. Num tempo em que o Brasil respirava esporte, onde Luciano do Valle estimulava todas as práticas esportivas com o seu lendário programa “Show do Esporte” (TV Bandeirantes), o voleibol masculino, que havia sido medalhista de prata na Olimpíada de Los Angeles, naquele mesmo ano, e antes vice-campeão mundial juvenil em 1981 (EUA) e adulto em 1982 (Argentina), virou febre nacional.

Assim, a Confederação Brasileira de Voleibol promoveu o VII Campeonato Brasileiro de Clubes, com diversos grupos formados pelo país, em rodadas preliminares realizadas em uma Capital, a fim de escolher os representantes para a etapa final.

Natal, Cidade do Sol, não só foi escolhida para sediar uma das chaves do Nordeste, como teve a honra de receber, como cabeça-de-chave do grupo, a Atlântica Bradesco, uma das maiores potências do esporte.

Os jogos foram realizados no Palácio dos Esportes de 08 a 12.11.1984 e contou com a participação de Atlântica Bradesco (RJ), Alecrim (RN), Santa Cruz (PE), Andreas (PI) e Associação dos Economiários – AECE (CE), tendo as delegações visitantes ficado hospedadas no Hotel dos Reis Magos. O baixo teto do ginásio frustrou os espectadores de ver o saque “Jornada das Estrelas”, de Bernard. O potiguar só pôde ver, ao vivo, o “jornada” em 03.09.1986, em partida amistosa da seleção brasileira contra a seleção da Grécia, no ginásio do Campus Universitário e com um teto propício para a jogada.  

O prestígio da equipe carioca era enorme, embora internamente estivesse passando por um momento de turbulência. No fim de outubro, a equipe havia perdido a final do 1º Mundial de Clubes, realizado em São Paulo, com derrota de 3x2 para a Pirelli, no Ginásio Ibirapuera, no tempo em que a dicotomia do vôlei brasileiro se retratava entre RJ e SP, pois o Bradesco, mesmo sendo um banco paulista, treinava no Rio; enquanto que a poderosa multinacional italiana tinha como sede a capital bandeirante. Bebeto de Freitas, que treinava a seleção, o time masculino do Bradesco e a quem é atribuído ser um dos mentores da evolução do esporte no país, tinha deixado o comando para ser o Supervisor de Esportes e em seu lugar assumiu Jorge Barros, o “Jorjão”.      

Como estratégia a levar o público aos jogos que aconteciam à noite no PE, a organização do campeonato levou as equipes para realizarem seus treinamentos nos ginásios de escolas da cidade, proporcionando às pessoas estarem mais próximos de seus ídolos e alguns causos nasceram desses encontros. Contam que em troca de uma camisa de treino da equipe carioca, um fã chegou a sugerir a cheirar os tênis usados e suados do levantador Bernardinho. Já uma garota foi à sua tradicional escola no dia seguinte devidamente vestida com a camisa recebida de souvenir, e um dos diretores apontou o dedo e passou sobre as letras da palavra BRADESCO que guardavam o busto da jovem, lendo o nome da equipe em voz alta. Lendas urbanas!!!

Ocorre que essa simpatia excessiva reconhecida como característica do natalense nem sempre foi correspondida durante aquela semana. O Diário de Natal, edição de 13.11.1984, atribuiu à equipe carioca um show de esnobação e que o ídolo nacional Bernard mostrou-se arredio e negou-se a dar autógrafos a crianças nos colégios onde seu clube treinava. Todavia, confirmou-se que o mesmo atleta doou uma camisa à equipe de esportes da Rádio Tropical para leiloar em uma campanha filantrópica.

O Alecrim, representante potiguar, foi treinado pelo saudoso Jorge Moura, que convocou os seguintes atletas: os irmãos Dadau, Alexandre “Dida” e Paulo César; Orlando “Cocão”, Fred Câncio, Eduardo, Ademir, Pacall, Serafim, Tota Farache, Jean, Cláudio, Floriswaldo e Valécio.

Já o elenco da Atlântica Bradesco, treinada pelo técnico Jorge Barros - talvez o mais simpático de todos os integrantes -, tinha: Bernard, Bernardinho, Leonídio, Rui, Erick, Suíço, Alcídio, Betinho e Luiz Alexandre, este que ainda era juvenil e namorava a Fernanda Venturini.  

Mas, se o Bradesco tinha uma constelação de prata, em outras equipes participantes havia estrelas que em breve reluziram a ouro. O Santa Cruz de Recife tinha André Falbo Ferreira, o “Pampa”, enquanto que o Economiários do Ceará tinha Antonio Carlos Gouveia, o “Carlão”, que integraram a seleção que trouxe o primeiro ouro olímpico em esportes coletivos para o Brasil, em 1992, em Barcelona.

O Alecrim, ao contrário de outras equipes, era um time amador. O meio de rede Floriswaldo era um dos mais novos do grupo e ainda juvenil em 1984 e lembra uma curiosidade sobre os treinamentos.

“O time era novo e amador. Eu, Cláudio, Eduardo e Tota éramos juvenis. Jean e Valécio infanto-juvenis. A gente treinava das 22h a meia-noite no Palácio dos Esportes, porque não dava para treinar no horário normal de expediente, uma vez que tinha a turma mais veterana que já trabalhava e outros estudavam à noite. Terminava o treino e Jorge Moura ou quem tinha carro saía distribuindo os outros jogadores de carona”.

O amadorismo fez a diferença e classificaram para a segunda etapa as equipes da Atlântica Bradesco/RJ e o Santa Cruz/PE.

Esse campeonato já foi jogado com as alterações na regra de impossibilidade de bloqueio no saque adversário e os árbitros foram orientados a serem mais permissivos com a defesa, num tempo em que os sets iam até 15 pontos e a pontuação somente ocorria quando se conseguia a vantagem consecutiva.   

Na foto que ilustra a matéria, cedida gentilmente por Floriswaldo Teixeira, vemos as duas equipes posando juntas antes da partida, mostrando ao fundo o Palácio dos Esportes completamente lotado. Em pé: Dr Roberto Vital (médico), ?, Jorge Moura (treinador do Alecrim), Jorge Barros (treinador da Atlântica Bradesco), Luiz Alexandre, Alcídio, Pacall, Floriswaldo, Jean, Rui, Orlando “Cocão” e Dida. Agachados: Dadau, Fred, Bernard, Bernardinho, Betinho, Cláudio, Erick, Leonídio, Serafim e Paulo Cesar.

Nota do Blog: A partida foi jogada na noite de 10.11.1984, portanto, há 36 anos. O blog mantém o propósito de não ter memória curta, tentando criar uma cultura de valorização dos fatos esportivos que aconteceram na cidade no passado, contando histórias com participação de senhores e senhoras que foram atletas e, por não estarem mais jogando, nem sempre são lembrados.

Créditos de imagens e informações para a criação do texto: Entrevistas com Orlando “Cocão” Medeiros e Floriswaldo Teixeira; Jornal Diário de Natal.