
Quando assumiu a Presidência da República, em 1985, primeiro provisoriamente e depois em definitivo, após a agonia e morte de Tancredo Neves, o titular, José Sarney veio com a velha e batida história do sacrifício pessoal.
Depois, sacrificou-se outras vezes, sacrificando a todos nós.
Sarney esteve em atividade política de 1955 a 2015.
Em 1955, então filiado à União Democrática Nacional (UDN), assumiu o mandato de deputado federal.
Onze anos depois, sentou na cadeira de governador do estado do Maranhão, dizendo que o estado “não quer mais a desonestidade no governo”, tampouco a corrupção e “a violência como instrumento de política” e menos ainda “a miséria, o analfabetismo, as mais altas taxas de mortalidade infantil”, entre outras coisas.
Não cumpriu uma única linha do que disse no discurso.
Entre o final da primeira metade dos anos 1960 e a primeira metade dos anos 1980, o oligarca maranhense foi um aplicado serviçal do regime nascido em 1964, para o qual virou, traiçoeiramente, as costas para se aliar com o Partido do Movimento Democrático Brasileira (PMDB), principal agremiação política de oposição.
O Brasil deve estar pagando por pecados colossais, porque por seis décadas padeceu sob Sarney, tentou levantar-se há pouco mais de trinta, mas viveu e vive aos pés dele, porque, em março de 1990, José Sarney saiu da Presidência da República mas continuou pautando, como senador e como presidente do Congresso Nacional, praticamente todos os presidentes da república.
Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso (duas vezes), Lula (duas vezes), Dilma (uma vez e meia), Temer e agora Bolsonaro governaram o Brasil, mas quem ainda define para onde o país vai é uma das heranças deixadas pelo “estadista” maranhense, o tal presidencialismo de coalizão, eufemismo para um sistema que por aqui tem servido para saquear os cofres públicos em nome da governabilidade.
Já li e ouvi muita gente boa falando sobre uma Era Fernando Henrique e uma Era Lula, mas o que parece sobreviver nos ardentes trópicos brasileiros é a Era Sarney.
E ela parece eterna.