Autoritarismo identitário

04 de Março 2024 - 15h44
Créditos: Montagem Internet

Um colega e amigo foi convidado, no final de 2022 ou no início de 2023, para participar de grupo encarregado de identificar características raciais em candidatos a vagas numa instituição federal de ensino. Quando ele me falou, eu respondi: “Ninguém arrisca me fazer um convite desse. Todos já sabem o que penso sobre o assunto.”

O que penso vem se consolidando há umas duas décadas e ganhou mais peso nos últimos dias, após um candidato pardo ter vaga de cota racial negada na mais conceituada universidade brasileira.

É uma coisa bizarra um tribunal racial em instituições estaduais e federais de ensino e mostra o tamanho do buraco no qual estamos metidos.

Um conjunto de regras e normas raciais, um arremedo de Leis de Nuremberg cabocla, que me perdoem o paradoxo, foi criado e operacionalizado. A se manter o clima não demorará para algum “luminar” propor uma conferência de Wansee.

O rapaz que não logrou êxito na universidade paulista passou a vida inteira se achando e sendo achado pardo. Disseram-lhe que neste país democrático, em que todos são igualmente cidadãos, não importa sua cor, caberia apenas a ele se identificar racialmente. Aí quando passa na universidade, um tribunal racial decide que ele não é pardo, mas branco.
A autodeclaração das pessoas pardas não é respeitada no Brasil. Os movimentos negros puseram em livros e apostilas que pardo é negro e assim se apropriaram dos dados estatísticos e dizem uma mentira, a saber, que os negros são maioria. Porém, no momento da vaga de cota mudam de posição e dizem que pardo é branco.

Os que se autodeclaram pardos para o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) inflam o número de negros, mas não podem, na hora do vamos ver, ter direitos às cotas.

O Brasil não é um país de branco, negro, índio... O Brasil é um país mestiço e precisa se reconhecer, definitivamente, como mestiço. É a única forma de amputar um dos braços do autoritarismo identitário.

Os nossos intelectuais da primeira metade do século XX mostraram o caminho.

Em tempo: sou contra cotas raciais e defendo, provisoriamente, cotas sociais. Cabe ao Estado criar as condições para garantir o acesso dos jovens à educação básica de qualidade. Daí em diante, que todos concorram em condições mais ou menos iguais.