Cabral, o homem que descobriu o Rio

08 de Setembro 2019 - 09h23
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Em Se não fosse Cabral: a máfia que destruiu o Rio e assalta o País, o jornalista Tom Cardoso expõe as entranhas do jogo político no Rio de Janeiro e no Brasil.

Se não fosse Cabral... é um drama político-afetivo nacional, pois, apesar de apresentar a meteórica carreira de Sérgio Cabral Filho, ex-deputado estadual, ex-senador e ex-governador do Rio de Janeiro, descreve as relações familiares das lideranças políticas e como elas influenciam o mundo e o submundo da política carioca, fluminense e brasileira.

O livro é prefaciado por Renato Janine Ribeiro, professor da ética e de filosofia política da USP e da UNIFESP, ex-ministro da educação de Dilma (abril a outubro de 2017) e um dos mais profícuos intelectuais do país.

Ribeiro faz análise ácida da elite política brasileira. Para ele, o mais impressionante na história contada por Tom Cardoso, “não é apenas a corrupção. É a arrogância, a soberba: o excesso, o exagero, a desmedida” e arrisca uma hipótese, a qual reconhece arriscada, a de que existe “numa parte mais rica da sociedade brasileira, uma convicção de impunidade ou de imunidade. Pensam alguns que jamais serão chamados a prestar contas do que fazem. Sentem-se a salvo de qualquer punição, o que é a impunidade, ou mesmo protegidos de toda apuração, o que seria talvez a imunidade.”

O professor e ex-ministro, que passa pano pra corrupção petista, faz análise ácida de parte da elite política brasileira, como se a cúpula do partido que defende não fizesse parte da tal elite e pudesse permanecer impune ou imune.

Lendo o livro do início ao fim não resta dúvida alguma de que Sérgio Cabral Filho foi um dos maiores escroques da política nacional. Mas foi porque esteve cercado e protegido por alguns do mesmo naipe dele.

Para não nos alongarmos excessivamente no caminho que levou o filho de Sérgio Cabral, respeitado jornalista e escritor que exerceu três mandatos apagados de vereador no Rio de Janeiro, à chefia do executivo fluminense, corramos direto para o pleito de 2006.

O então senador, eleito em 2002, que fizera carreira política defendendo os interesses, em cada momento de sua trajetória, dos velhinhos, dos jovens, dos gays e dos artistas, lançara-se candidato ao governo do estado com um arco de alianças que era um verdadeiro saco de gatos.

Estavam juntos os velhinhos, os jovens, os gays, os artistas... e mais o então tucano Eduardo Paes, o petista Vladimir Palmeira, a comunista Jandira Feghali, Miro Teixeira, Brizola Neto, Marcelo Crivella e o candidato a renovar o mandato presidencial Luiz Inácio Lula da Silva.

Ainda contava com a presença da máfia emedebista em nível nacional (Moreira Franco, Michel Temer, Geddel Vieira Lima) e estadual (Jorge Picciani, o casal Garotinho, etc).

Naquele pleito, o eleitor do estado do Rio de Janeiro teve a chance de escolher entre Cabral e a camarilha que o seguia e a ex-juíza Denise Frossard, que tinha o apoio quase solitário de César Maia.

O eleitorado conferiu ao então senador pelo PMDB uma votação consagradora: 68% dos votos válidos, quase três milhões de diferença sobre a sua adversária.

Logo depois empossado, Cabral conseguiu atrair o então prefeito César Maia, apoiador de Denise Frossard, para uma aliança administrativa, que contaria com o beneplácito e a participação do presidente Lula, interessado em contrabalançar o peso político dos tucanos no sudeste.

A votação consagradora, o apoio das principais forças políticas do estado e do Palácio do Planalto permitiram a Sérgio Cabral Filho roubar os cofres do estado do Rio de Janeiro com uma voracidade sem limites e sem praticamente nenhum freio.

O resto é história.