Confira tudo o que se sabe sobre a relação entre Bolsonaro e aliados em suposta tentativa de golpe

16 de Março 2024 - 06h08
Créditos: Marcelo Camargo/Agência Brasil

O ministro do STF Alexandre de Moraes retirou o sigilo dos depoimentos de militares e civis no inquérito que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder. Ao todo, 27 nomes tiveram o depoimento tornado público, incluindo o de Bolsonaro, de ex-ministros do governo e de militares aliados do ex-presidente. Confira os principais pontos do que foi dito:

General da reserva defendeu prisão de Moraes

Um dos depoimentos tornados públicos é o do general da reserva do Exército Laércio Vergílio. Ele disse à Polícia Federal que a prisão do ministro Alexandre de Moraes seria necessária para "a volta da normalidade institucional e a harmonia entre os Poderes". 

O general foi perguntado sobre os áudios que mostram conversas dele com Ailton Gonçalves Moraes Barros, major reformado do Exército, preso em operação sobre fraude em cartões de vacinação. Em uma das conversas, Vergílio comentou que Moraes deveria ser preso em 18 de dezembro de 2022 pelo comandante da Brigada de Operações Especiais de Goiânia, um dos grupamentos do Exército.

O militar confirmou que teve conversas sobre a prisão de Moraes, mas disse que "nunca foi comentado sobre qualquer golpe de estado em andamento".

A Polícia Federal, então, mostrou um áudio em que Laércio defende a realização de uma "operação especial" que seria liderada por Jair Bolsonaro.

Nesse ponto, ele disse que a "operação especial" seria realizada visando "implementar a GLO [Garantia da Lei e da Ordem] temporariamente" e que "tudo deveria ser realizado dentro da lei e da ordem, com base na Constituição Federal, principalmente, com os argumentos apresentados pelo jurista lves Gandra", que é professor emérito de direito constitucional da Escola do Comando e Estado Maior do Exército.

Bolsonaro tinha esperança de reverter resultado da eleição

O ex-comandante da Aeronáutica Carlos de Almeida Baptista Junior relatou à PF que Bolsonaro "aparentou ter esperança em reverter o resultado das eleições" após o segundo turno do pleito. Ele afirmou que o ex-presidente estava "resignado" com o resultado das urnas e consultou a AGU (Advocacia Geral da União) para uma "alternativa jurídica" que contestasse a vitória de Lula.

A conversa entre Bolsonaro e o então Advogado-Geral da União, Bruno Bianco, foi testemunhada pelo militar em 1º de novembro de 2022, em uma reunião no Palácio da Alvorada, logo após o resultado do segundo turno das eleições presidenciais.

Baptista disse que, na ocasião, Bianco teria afirmado que as eleições "transcorreram de forma legal, dentro dos aspectos jurídicos, e que não haveria alternativa jurídica para contestar o resultado".

Ex-comandante do Exército ameaçou prender Bolsonaro

Baptista Junior também disse que o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes ameaçou prender o ex-presidente Jair Bolsonaro caso ele não desistisse de levar adiante um plano golpista para seguir no poder em 2022.

Ele também afirmou que Bolsonaro apresentou uma minuta que "decretava a realização de novas eleições e a prisão de autoridades do judiciário".

Esse episódio teria ocorrido em 7 de dezembro de 2022, em um encontro com a presença do ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, e ex-comandante da Marinha, almirante Garnier, além do ministro da Defesa, Paulo Sérgio. 

Carla Zambelli pressionou por golpe de Estado

Baptista Junior relatou ainda que a pressão para aderir ao golpe de Estado proposto por Jair Bolsonaro vinha também de aliados do ex-presidente, incluindo a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP).

Durante a formatura de aspirantes da Aeronáutica, em 8 de dezembro de 2022, em Pirassununga (SP), Zambelli teria abordado o militar. "Brigadeiro, o senhor não pode deixar o presidente Bolsonaro na mão", alegou a deputada.

O ex-comandante alegou que respondeu à deputada afirmando que não admitia qualquer proposta de ilegalidade. Baptista Junior disse que comunicou o ocorrido ao então ministro da Defesa, Paulo Sergio Nogueira, que também teria sido abordado por Zambelli de forma semelhante.

Em nota, a defesa de Zambelli disse que a deputada não se recorda de ter abordado o ex-comandante da Aeronáutica para pedir apoio à execução de um suposto golpe.

Fraudes nem falhas nas urnas eletrônicas

Em outro trecho do depoimento, Baptista declarou que as Forças Armadas não detectaram fraudes ou falhas nas urnas eletrônicas. Ele afirmou que, com base nos resultados obtidos pela Comissão de Fiscalização da Defesa, está certo de que não houve qualquer irregularidade relacionada ao sistema de votação eletrônico.

Fonte: R7