Correr todos os dias pode levar a problemas psicológicos a longo prazo, afirma estudo

17 de Maio 2023 - 14h08
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Correr é um dos exercícios favoritos para entrar em forma. Além de tonificar o corpo e ativar os músculos, traz benefícios para a saúde mental. No entanto, tendo a possibilidade de o fazer ao ar livre ou ouvir música e poder relaxar, muitos assumem esta atividade física como única e tornam-se dependentes. De acordo com um estudo publicado pela revista Frontiers in Psychology, essa dependência pode desencadear um vício em atividade física que, a longo prazo, pode desencadear problemas de saúde.

Os pesquisadores do estudo investigaram o conceito de válvula de escape, que geralmente é definido como "uma atividade ou tipo de entretenimento que ajuda a evitar ou esquecer situações desagradáveis ​​ou chatas", para entender a relação entre corrida, bem-estar e dependência de exercícios.

O estudo explica que entre os benefícios psicológicos das válvulas de escape estão: alívio dos pensamentos e emoções mais estressantes e menos ruminação.

No entanto, pode haver dois tipos de “fuga” por meio das válvulas de escape: adaptativa e mal adaptativa. A primeira é sair em busca de experiências positivas e também se chama autoexpansão. Enquanto a mal adaptativa busca evitar experiências negativas e é chamada de autosupressão.

No que diz respeito à implementação do projeto, a equipe de investigação recrutou 227 corredores recreativos, metade homens e metade mulheres. Eles foram solicitados a preencher questionários relacionados a três aspectos diferentes do costume que utilizam como válvula de escape e da dependência de exercícios: uma escala que media a preferência por autoexpansão ou autosupressão; outra escala de dependência de exercícios; e uma escala de satisfação com a vida concebida para medir a satisfação dos participantes no seu dia a dia.

O estudo confirmou que a necessidade de uma válvula de escape é um fator importante que influencia o desejo de se exercitar e que abrange até mesmo os aspectos adaptativos e desadaptativos da motivação para correr.

Ele acrescenta que essas descobertas podem ajudar as pessoas a analisar qual é a verdadeira motivação que as leva a fazer essa atividade física. Em caso de falta de adaptação, é necessário mudar a mentalidade de fuga para uma de aprendizagem e expansão.

Nas palavras de Blasco, o problema surge quando a pessoa recorre a essa atividade o tempo todo para não ouvir a voz de sua consciência. Também pode acontecer que, consciente ou inconscientemente, a pessoa comece a sobrecarregar sua agenda e enchê-la de atividades como forma de fuga.

Somado a isso, Blasco comenta que é preciso refletir se a verdadeira motivação para correr é o prazer ou o preenchimento de lacunas.

Sobre a questão da vontade de correr, Nestor Lentini, especialista em medicina esportiva do Hospital Universitário Austral (HUA), explica que a prática diária de atividades físicas como correr libera endorfinas, hormônios que melhoram o humor, e que isso pode estar relacionado ao tipo de escapismo desadaptativo que algumas pessoas usam para evitar se sentir mal. No entanto, frisa que nos casos em que isso não é levado ao extremo, a corrida é uma ferramenta para combater o sedentarismo e as doenças crônicas não transmissíveis.

Por outro lado, Magali Barbara Almada, médica do esporte do HUA, concorda com os demais especialistas que usar a corrida como uma espécie de válvula de escape da realidade é algo verdadeiro que tem uma base psicológica relacionada com o estresse.

Com este último, ela quer dizer que quando alguém decide dar os primeiros passos no mundo da corrida, passa por diferentes períodos. Segundo a profissional, no início existe a "fase surda" que é aquela em que a pessoa se recusa a correr e tem dificuldade para fazê-lo até que, com o passar do treino, começa a controlar a respiração, os batimentos cardíacos, e outros até que chegue ao próximo estágio. Nela, o corpo é automatizado com os movimentos que tem que fazer, então a mente começa a eliminar todo o resto.

"É como se fosse uma folha de papel em branco onde você pode planejar e pensar em milhões de coisas que só aparecem quando você está correndo e isso não acontece se você sentar com papel e caneta para pensar", detalha a médica.

Da mesma forma, Almada esclarece que não é que correr tenha um efeito viciante, mas à medida que a pessoa detecta que o seu desempenho é melhor, surge naturalmente a vontade de aumentar as variáveis ​​da corrida e ter objetivos mais ambiciosos (correr com mais frequência, por mais tempo, inscrevendo-se em uma maratona e afins). Embora ela avise que o ideal é que tanto quem o faz de forma recreativa quanto profissional o complemente com treinamento de força.

"A maioria deles tem um treino padrão que tem, por um lado, uma combinação de corridas específicas (corridas, subidas, velocidade, distância) e, por outro lado, sessões de musculação, alongamentos e outras disciplinas como ciclismo ou natação", acrescenta Almada.

Com informações de O Globo