Elizabeth II visitou o Brasil apenas uma vez e esteve no Nordeste; veja como foi

08 de Setembro 2022 - 13h26
Créditos:

A rainha Elizabeth II, que morreu nesta quinta-feira (8) aos 96 anos, fez uma única viagem ao Brasil. Ela tinha 42 anos quando chegou ao País no dia 2 de novembro de 1968, acompanhada de seu marido, o falecido príncipe Philip.

Em oito dias, o casal passou por cinco capitais: Recife, Salvador, Brasília, São Paulo e Rio, antes de seguir para Buenos Aires, na Argentina.

A agenda incluiu eventos com autoridades como o então presidente da República, Artur da Costa e Silva, segundo presidente da ditadura militar, e visitas a locais históricos como o Monumento ao Ipiranga, em São Paulo, e o Mercado Modelo, em Salvador.

No último dia da viagem, o casal assistiu a um jogo amistoso entre as seleções de Rio e São Paulo no Maracanã. Ao fim da partida, ela entregou um troféu aos craques Pelé e Gerson, que atuaram pelo elenco paulistano.

Visita ao Nordeste – Recife


Foto: Família Coelho/Arquivo

O Recife foi a primeira parada de Elizabeth II no Brasil. Em 1º de novembro de 1968, ela desembarcou às 16h15 no Aeroporto dos Guararapes, a bordo de uma aeronave da Real Força Aérea. O príncipe Philip veio do México, onde havia assistido aos Jogos Olímpicos.

De acordo com a britânica BBC, do terminal aéreo, Elizabeth e Philip seguiram para o Palácio do Campo das Princesas. Os dois foram recebidos pelo então governador de Pernambuco, Nilo Coelho.

A visita de Elizabeth II contou com nomes importantes como o escritor e antropólogo Gilberto Freyre e o arcebispo de Olinda e Recife, dom Helder Câmara.

O diplomata Marcos Azambuja relatou em seu livro “O Protocolo Perde para o Carinho – A Visita da Rainha Elizabeth II ao Brasil pelos Olhos da Imprensa” que dom Helder Câmara relutou para prestar homenagem em público.

“Ele relutava não por qualquer desapreço à rainha, mas porque não queria contribuir para momentos que seriam prestigiosos para um governo cuja legitimidade questionava”, explica Azambuja no livro.

A recepção a Elizabeth ficou marcada por uma situação inusitada. Durante o evento, um apagão deixou o Recife às escuras por 25 minutos. O almoço continuou à luz de velas, o que rendeu uma piada do então deputado estadual Marco Maciel: “O acender dos candelabros dá a este momento histórico um magnífico toque vitoriano”.

O cortejo real seguiu para o Porto do Recife, e a rainha pediu para que o carro parasse para acenar para os funcionários do Diario de Pernambuco. No dia seguinte à visita, o jornal estampava na manchete: “Elizabeth reina duas horas no Recife”.

Por fim, Elizabeth II e o príncipe Philip embarcaram, às 18h30, no Britannia, iate real da Marinha inglesa, e seguiram para Salvador. Eles chegaram na capital baiana às 7h do dia 3 de novembro.

Visita ao Nordeste – Salvador


Foto: Arquivo Nacional

A passagem por Salvador foi curta, porém quente – literalmente. A primavera com ares de verão recepcionou o casal real com ardentes 33 graus.

O colunista Nelson Cadena, do Correio da Tarde, conta em um texto de 2012 que o motorista que levaria a Rainha se descuidou e não estacionou na sombra. “Beth”, desprevenida, entrou no carro e sentou direto no banco de couro do Lincoln 1935, que a levaria para um “tour” pela cidade da Bahia.

Ao encostar no assento, que mais se assemelhava a um forno, a vossa majestade arregalou os olhos e deu um pinote do banco em brasas. A cena provocou o espanto dos presentes e resultou num pequeno atraso em sua agenda.

Após o susto, o passeio deu início. A primeira parada de Elizabeth e Philip foi o Mercado Modelo. O chão do local, que era de cimento, foi coberto com uma esteira de sisal para não ferir os pés reais.

No ponto turístico, o casal apreciou as barraquinhas de folha, o artesanato, bebeu um suco de pitanga e aceitou, de bom grado, ornamentos de prata confeccionados pelo joalheiro Gerson, por encomenda de Camafeu de Oxóssi, em nome dos barraqueiros.

Após deixar o Mercado Modelo, a corte partiu em direção a Ladeira da Conceição, novinha em folha com uma camada de asfalto passada no dia anterior.

Com bandeiras da Inglaterra, milhares de baianos se aglomeravam pelo caminho na tentativa de dar uma espiadinha no casal real.

Logo depois, a rainha reuniu-se com os ingleses residentes em Salvador na Igreja Anglicana, participou de uma solenidade no Palácio da Aclamação, presentes as autoridades do estado e 120 casais convidados, inclusive intelectuais e artistas como Jorge Amado e Carybé; visitou a Igreja de São Francisco e o Museu de Arte Sacra antes de embarcar de volta no Britânia, o navio real que a conduziria ao Rio de Janeiro, próxima parada em sua tour na terra de Pindorama.

Então, o navio cruzou o Farol da Barra, seguido de duas corvetas inglesas e muitos saveiros em solene procissão, o povo baiano da orla apreciando o cortejo.

Fonte: Correio da Tarde (Bahia) e Folha de Pernambuco (Pernambuco)