Escândalo dos descontos do INSS atinge pessoas ligadas a 6 partidos

10 de Maio 2025 - 10h04
Créditos: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

 

As investigações sobre o esquema bilionário de fraudes nos descontos de mensalidade de aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) citam pessoas que integram ou têm relação com ao menos seis partidos. O impacto político abrange nomes tanto governistas como da oposição, nos governos Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL).

A megaoperação da Polícia Federal (PF), deflagrada em abril deste ano, contra desvios que podem chegar a R$ 6,3 bilhões. O escândalo culminou nas demissões do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.

PDT na mira
O baque mais visível até agora foi justamente no PDT, partido de Lupi. Apesar de não ter sido citado nas investigações, a permanência dele no cargo ficou insustentável após tantos alertas feitos sobre a farra dos descontos. 

O número dois de Lupi, Wolney Queiroz, também do PDT, assumiu o ministério na semana passada. Ele estava na mesma reunião em que Lupi foi alertado sobre as fraudes e assinou, em 2021, uma emenda que prorrogou o prazo de revalidação dos cadastros de aposentados feitos pelas entidades da farra.

Após a queda de Lupi, a bancada do PDT na Câmara dos Deputados decidiu se afastar do Planalto formalmente na terça-feira (6), quatro dias após a demissão de Carlos Lupi do comando do Ministério da Previdência. No entanto, os senadores divergiram da bancada e anunciaram que vão permanecer na base. A decisão foi tomada de forma unânime pelos três senadores do PDT: Ana Paula Lobato (MA), Leila Barros (DF) e Weverton Rocha (MA), que é o líder da legenda na Casa.

Ministro do PSD citado
Outro ex-ministro também foi atingido pelo escândalo do INSS. José Carlos Oliveira, do PSD, comandou o instituto e o Ministério da Previdência no governo Bolsonaro, entre 2021 e 2022, e foi citado na investigação por causa de transações suspeitas relacionadas a um assessor de uma das entidades que estão na mira da PF.

Um dos assessores do pecuarista Carlos Roberto Ferreira Lopes, presidente da Confederação Nacional de Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais (Conafer), repassou dinheiro a um auxiliar-administrativo que é sócio de Oliveira. A entidade cresceu o faturamento com descontos de aposentados em 57.000% entre 2019 e 2023. O ex-ministro é citado na investigação, mas não consta como investigado.

PSB
Um dos principais partidos da base aliada do governo Lula, o PSB também se viu envolvido no escândalo por ocupar a cúpula do INSS e ter parlamentar que apareceu na investigação.

Afastado do comando do INSS por decisão judicial, o ex-presidente do instituto Alessandro Stefanutto era do PSB e só trocou o partido pelo PDT em janeiro deste ano. Foi na gestão dele que as fraudes dos descontos atingiram o auge e ele acabou perdendo o cargo sob suspeita de omissão.

Além disso, um caderno apreendido pela PF nas buscas feitas durante a operação de abril contra o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, mostra anotações como “Stefa 5%” e “Virgílio 5%”, que sugerem suposto pagamento de propina a Stefanutto e ao ex-procurador do órgão Virgílio Oliveira Filho.

Outro integrante do PSB citado no inquérito é o deputado estadual maranhense Edson Araújo, que recebeu, no período de um ano, R$ 5,4 milhões de uma das entidades investigadas.

Edson Araújo foi 2º vice-presidente da CBPA e presidente da federação de pescadores maranhenses.

PT
O PT, partido do presidente Lula, foi diretamente afetado pelo escândalo e tem tentado reduzir os danos ao governo dizendo que o esquema começou sob Bolsonaro e foi desbaratado pela PF na gestão petista. 

Além disso, algumas entidades têm ligação com políticos da sigla. Entre elas, está a Contag, que acumulou R$ 2 bilhões entre 2019 e 2024, com descontos de aposentadorias, segundo a Controladoria-Geral da União (CGU). A entidade é presidida por Aristides Veras Santos, irmão do deputado federal Carlos Veras (PT-PE). Há uma série de pagamentos sob suspeita. Entre eles, R$ 5 milhões a uma agência de viagens.

Em meio ao escândalo, o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira (PT), se encontrou nessa quarta-feira (7) com representantes da Contag. 

Lula também viu seu irmão Frei Chico envolvido no escândalo do INSS por ser vice-presidente de uma das entidades que mais arrecadaram com descontos de aposentados, o Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos da Força Sindical (Sindnapi). Embora não seja filiado ao PT, Frei Chico acabou engrossando a presença do presidente no noticiário ligado ao caso.

O Sindnapi foi a terceira entidade que mais arrecadou com descontos, entre 2019 e 2024, e teve salto de faturamento de R$ 100 milhões em três anos, segundo auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). A entidade contesta esta cifra. 

PL
Outro ministro de Bolsonaro que acabou sendo citado na operação é o ex-chefe da pasta do Trabalho e da Previdência Social Onyx Lorenzoni. O político bolsonarista recebeu uma doação de R$ 60 mil na campanha ao governo do Rio Grande do Sul, em 2022, feita por Felipe Macedo Gomes, ex-presidente da Amar Brasil Clube de Benefícios (ABCB), uma das entidades investigadas.

O acordo de cooperação técnica da ABCB com o INSS, que permitiu descontos de 2,5% sobre aposentadorias, foi iniciado em março de 2022, quando Lorenzoni chefiava a Previdência e Gomes comandava a associação, e assinado em agosto daquele ano, período em que o político gaúcho já estava em campanha — a doação eleitoral, destacada pela PF, foi feita em 30 de setembro daquele ano.

Republicanos
O Republicanos, um dos partidos do Centrão, também tem um representante entre as pessoas ligadas ao escândalo do INSS. Uma das entidades investigadas pela PF, a CBPA tem como presidente Abraão Lincoln, que já comandou o partido no Rio Grande do Norte e foi candidato a deputado federal pela legenda em 2018.

Segundo a PF, a CBPA não tinha associados em 2022, quando firmou seu acordo com o INSS para poder efetuar descontos de mensalidade de aposentados. No ano seguinte, já eram mais de 340 mil, resultando em uma arrecadação anual de R$ 57,8 milhões.

Com informações de Metrópoles