
A fraude nos descontos do INSS superou, em repercussão nos grupos de mensagens como WhatsApp, Telegram e Discord, temas de grande alcance como a saúde de Jair Bolsonaro (PL), a proposta de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro e até a crise do Pix. O levantamento é da Quaest e foi feito entre 21 de abril e 7 de maio.
Foram analisadas 3,6 milhões de mensagens em 30 mil grupos públicos. A pesquisa, feita por social listening, mostra que 50% do conteúdo tinha teor crítico e 47% era noticioso. Apenas 3% das mensagens eram de defesa ao governo Lula (PT). Em média, o tema atingiu 818 mil pessoas por dia.
O esquema fraudulento envolvia descontos ilegais em benefícios de aposentados e pensionistas, realizados por associações e sindicatos. Segundo a Polícia Federal, foram desviados R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024. A operação foi deflagrada em 23 de abril pela CGU e pela PF, gerando o primeiro pico de mensagens. Outros dois picos ocorreram em 29 de abril, após relatório da PF, e em 6 de maio, com vídeo do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), que respondeu por 20% dos links compartilhados e aumentou em 204% as menções em 24h.
Nos primeiros 15 dias de repercussão, o caso do INSS gerou 2,6 vezes mais mensagens que a crise do Pix. O assunto também superou o interesse pela saúde de Bolsonaro e pela anistia aos golpistas — tema que, segundo a Quaest, mobiliza pouco até a direita.
Para Felipe Nunes, CEO da Quaest, os grupos de mensagens revelam comportamentos coletivos ocultos. Ele afirma que o INSS rapidamente despertou curiosidade da população e pode vir a impactar a popularidade do governo.
A repercussão, inicialmente informativa, tornou-se política após relatório da PF. Em grupos de direita, destacou-se o possível envolvimento de Frei Chico, irmão de Lula e vice do Sindnapi — entidade investigada, mas que depois foi retirada da lista de associações no núcleo do esquema pela AGU.
Mensagens nesses grupos relembraram escândalos antigos e usaram termos como “Luladrão”. Também acusaram Lula de revogar uma lei antifraude sancionada por Bolsonaro — o que é falso, segundo checagem do Projeto Comprova.