Garrincha e a origem do “Olé”

03 de Novembro 2019 - 10h46
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Logo após vencer o campeonato carioca de 1957, o Botafogo seguiu para uma longa excursão de 03 (três) meses pela América do Sul, Central e México. Por óbvio que muitas histórias existem nesse extenso período em que o jogador de futebol estava longe de sua casa e de sua terra natal.

A mais fantástica das histórias deste período ocorreu, exatamente, no fechamento da excursão.  No México, o time da Estrela Solitária com Nilton Santos, Didi e Garrincha, enfrentou o River Plate, da Argentina, que também possuía um excelente time com nomes expressivos como Rossi, Labruña, Vairo, Menendez, Zarate e Carrizo e era conhecido com uma das melhores equipes do mundo, junto com o Real Madri.

A Piña Desportiva, mais tradicional grupo de jornalistas esportivos da cidade do México, logo tratou de emular a partida como se fosse “o jogo do século” e ofereceu uma taça cunhada em ouro ao melhor jogador em campo: El Jarrito de Oro.

O favoritismo do River Plate era demonstrado na cota que os clubes recebiam pela participação na partida. Enquanto o Botafogo recebia meros U$ 1,500.00 (um mil e quinhentos dólares), os argentinos recebiam U$ 8,000.00 (oito mil dólares).

Era março, há 03 (três) meses do início da Copa do Mundo da Suécia. As equipes estavam hospedadas no mesmo hotel; o L’Esgargot. Os jogadores se conheciam e o clima era amistoso entre eles e a direção das equipes.

O jogo foi de rara beleza no Estádio Universitário. Jogo duro e limpo. Grandes craques no gramado. Seriedade e respeito mútuos. Cem mil torcedores mexicanos em delírio.

Mané Garrincha tratou de fazer um espetáculo à parte, fazendo os torcedores reagirem as suas jogadas. Foi naquele dia que surgiu a gíria do “Olé”, hoje tão usual nos campos de futebol. Não é que o Botafogo deu um “olé” no River Plate, mas Garricha deu um “olé” pessoal no lateral-esquerdo Vairo. E só a torcida mexicana, com seu traquejo de touradas poderia, de forma tão sincronizada e perfeita, traduzir um “olé” daquele tamanho.

Toda vez que Garrincha parava na frente de Vairo, a torcida ficava em profundo silencio. Quando Mané dava o famoso drible e deixava Vairo no chão, um coro de cem mil pessoas exclamava: “Ô ô ô ô ô lê! O som do “olé” mexicano é diferente do nosso. O deles é típico das touradas. Começa com um ô prolongado, em tom mais grave, crescente, e termina com a sílaba lê dita de forma rápida. No Brasil se acentua o final lééé, com as sílabas em tom aberto.   

Vairo não terminou a partida. Ao passar pelo banco brasileiro, disse rindo:

“- No hay nada que hacer. Imposible”!!!

O jogo terminou empatado em 1x1. A torcida invadiu o campo e carregou Mané Garrincha nos ombros em volta olímpica. O Jarrito de Oro foi entregue a Garrincha ali mesmo, à unanimidade de votos.

No dia seguinte, poucas linhas sobre o jogo em si. As reportagens focaram um personagem e a sua ação: Mané Garrincha e o “Olé”.

A imagem da postagem é do Estádio Universitário da Cidade do México, onde foi criado o "Olé" do futebol. 

Créditos de Imagens e Informações para criação do texto: “Histórias do Futebol” (João Saldanha); https://www.altoastral.com.br/grito-de-ole-estadios-de-futebol/