Governo do Rio compra soro para abastecer hospitais por 60 anos; validade é de 2

26 de Janeiro 2021 - 03h42
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Exemplo de mau uso de dinheiro público e sob suspeita de corrupção, o projeto do governo estadual para instalar sete hospitais de campanha destinados a pacientes com Covid-19 ainda causa prejuízos aos cofres públicos. O Fantástico, da TV Globo, mostrou ontem que todos os equipamentos e materiais das duas únicas unidades estaduais que funcionaram — São Gonçalo e Maracanã — foram levados para um depósito após o fechamento. O aluguel do espaço custa R$ 1 milhão por mês.

A reportagem analisou 70 contratos firmados com base na lei que autorizou o poder público a fazer compras sem licitação na pandemia. O Fantástico entrou no galpão alugado desde agosto, onde estão de cobertores a respirados ainda nas caixas.

O atual secretário de Saúde, Carlos Alberto Chaves, cancelou os contratos assinados por Santos. A reportagem do Fantástico mostrou que alguns produtos adquiridos pela administração do ex-secretário, junto com o então subsecretário executivo Gabriell Neves, revelam o descaso com o dinheiro público: foram comprados, sem licitação, mais de quatro milhões de frascos de soro fisiológico e glicosado, por R$ 20,9 milhões — quantidade suficiente para abastecer as 11 unidades de Saúde administradas pelo governo por mais de 60 anos. A validade do produto, no entanto, é de dois anos.

Indícios de corrupção e superfaturamento em compras milionárias feitas pelo governo do Rio são investigados pelo Ministério Público e levaram ao afastamento do governador Wilson Witzel, que responde a um processo de impeachment. Devido às denúncias, o então secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, chegou a ser preso e se tornou delator.

Testes sem eficácia

Ainda foram adquiridos, por R$ 9 milhões, 50 mil testes rápidos de Covid-19 que também estão em depósito desde junho . Por não terem a eficácia comprovada pela Vigilância Sanitária, os exames não podem ser usados ou vendidos. Cada um custou R$ 180, o dobro de um teste de farmácia semelhante.

A empresa TotalMed, fornecedora dos testes rápidos que estão no depósito, diz que “a contratação ocorreu no auge da pandemia e da notória escassez de insumos”, acrescentando que doou 20 mil testes adicionais, afirmando não haver “hipótese para superfaturamento”.

Já o Iabas, Instituto de Atenção Básica e Avançada à Saúde (Iabas), contratado para instalar e administrar os hospitais de campanha, “todos os equipamentos entregues foram inventariados por empresa especializada, todos em perfeito funcionamento”. Edmar Santos não se manifestou, e a defesa de Gabriell Neves diz que “todos os contratos que ele assinou respeitaram estrita legalidade”. Witzel afirmou que afastou os suspeitos de ilegalidade e o impeachment é “político”.

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