
Após demissão da Jovem Pan, da Record, do Correio do Povo e da Rádio Guaíba, Rodrigo Constantino foi mantido no jornal Gazeta do Povo. Em comunicado, o veículo afirmou que Rodrigo explicou melhor o queria dizer em coluna.
"Rodrigo Constantino explica de forma mais clara e objetiva o que quis e o que não quis dizer. Isso não nos impede de considerar que suas manifestações iniciais foram inoportunas e infelizes, intempestivas e formuladas com imprecisão, dando margem a dúvidas que precisaram ser esclarecidas. É compreensível, portanto, parte do desconforto e constrangimento que despertou em muitas pessoas", diz o comunicado.
O veículo de comunicação disse que os pontos foram esclarecidos. "Na sua coluna desta quinta, no entanto, disse que jamais teve a intenção de analisar qualquer situação em concreto e reforçou a necessidade de que o caso de Mariana seja apurado e que, assim, faça-se justiça. Disse, inclusive, que acha brandas as penas do crime de estupro em nosso país".
De acordo com a empresa, Constantino não ultrapassou o limite ético e assim, foi decidido que ele continuaria no jornal. "Ainda que não concordemos com a forma de muitos dos seus posicionamentos e com muitas das suas opiniões, continuamos acreditando na importância da diversidade de ideias e na importância do diálogo para a construção de uma sociedade melhor e de uma democracia cada vez mais madura, razão pela qual, após várias ponderações e análises, decidimos pela manutenção de Rodrigo Constantino em nosso quadro de colunistas", conclui.
Insatisfação entre colaboradores
Jornalistas do veículo de comunicação não ficaram satisfeitos com o posicionamento da empresa diante do caso. Segundo carta obtida pelo UOL, ontem (5) colaboradores fizeram um texto de repúdio. O manifesto foi encaminhado à direção do jornal.
"As colaboradoras da Gazeta do Povo abaixo assinadas receberam o comentário com incômodo e enxergam no episódio uma violação às convicções do jornal", diz a carta.
A equipe ainda menciona trechos da coluna de Constantino e solicita aos jornal mais esclarecimentos. "Gostaríamos, assim, de mais transparência da direção em relação ao tema e seus possíveis desdobramentos. O colunista da Gazeta do Povo, em seu texto, culpa vítimas pela violência sofrida. Não existe 'assumir o risco de ser estuprada'. É mais uma situação de opressão em cima da mulher, que não considera avanços de entendimento da sociedade de que estupro não é apenas o ato sexual imposto de forma violenta, mas também o que passa por cima do consentimento".
Na carta, o texto do jornalista ainda é classificado como misógino. "Constantino cobra 'responsabilidade' da vítima e condena 'banalização' do uso do termo estupro, mas descarta a palavra da vítima e ignora o fato de que a violência sexual tem inúmeras outras formas que não um ato consumado. Pior: dissemina esse entendimento deturpado, prejudicando o debate tão essencial. A misoginia perpassa toda a construção do texto além de deixar subentendida a avaliação de que tipo de mulher se coloca sob risco".
Os colaboradores afirmam que é frustrante dividir o local de trabalho com Constantino diante da situação e que, além das mulheres, ele desrespeitou a linha editorial da empresa.
"A Gazeta do Povo quer proporcionar um ambiente onde as mulheres se sentem seguras para desempenhar seu trabalho ou, ao contrário, um ambiente em que o machismo e a violência moral, verbal e, eventualmente, física, seja vista como tolerada pela direção? Neste cenário, as colaboradoras entendem haver um incentivo ao assédio, à cultura de julgar a vítima e desestímulo a denúncias. Com isso, há perda de respeito e engajamento aos valores e ideais do grupo", diz o fim da carta.
Fonte: UOL