Jornalista Potiguar membro da Academia Brasileira de Letras morre no RJ

27 de Maio 2020 - 13h48
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O Acadêmico e jornalista Murilo Melo Filho faleceu na manhã de hoje, 27 de maio, no Hospital Pró-Cardíaco, vítima de falência múltipla de órgãos. O sepultamento será no mausoléu da Academia Brasileira de Letras. Diante da recomendação de se evitar reuniões e aglomerações por conta do coronavírus, não haverá velório.

“Murilo Melo Filho foi um dos grandes jornalistas brasileiros da segunda metade do século XX. Acompanhou de perto a política nacional, a construção de Brasília e a guerra do Vietnã. Conheceu inúmeros chefes de Estado, a quem dedicou páginas antológicas, dos mais variados espectros políticos.  Foi também um acadêmico exemplar, assíduo, com a disposição de emprestar seu talento aos mais diversos cargos e serviços na Academia. Guardo a imagem de um homem bom, de uma alta sensibilidade humana, voltada sobretudo para os mais vulneráveis e desprovidos. Um momento de tristeza.”, afirmou o Presidente da ABL, Acadêmico Marco Lucchesi.

“Murilo sempre foi aquele homem de caráter primoroso, amigo de seus amigos. Chamava aqueles que trabalhavam com eles de "coleguinhas", e assim ele era correspondido, sempre com muita admiração e sempre com muito carinho. Ele entrou para a Academia Brasileira de Letras na Cadeira nº20 e eu tive o privilégio de saudá-lo. Isso foi para mim uma das honras maiores da minha vida acadêmica. Murilo partiu, mas deixou uma obra extraordinária; na minha opinião foi o maior repórter político do Brasil durante todos os anos em que trabalhou ativamente na imprensa. Ele deixou um estilo cristalino, um estilo direto, formidável. Esse é o Murilo que nós saudamos.”, comentou Arnaldo Niskier, acadêmico ocupante da Cadeira nº18.

"Foi um jornalista atento, incansável, tinha fontes excelentes entre os políticos, era absolutamente sério na sua produção e fez escola no jornalismo político com o seu estilo sintético, informativo e analítico. Como companheiro na Academia Brasileira foi também sempre presente e ativo. Não havia livro de confrades ou confreiras lançados que ele não tivesse a oportunidade de dissertar. Foi uma presença ativa na Academia, foi diretor da Biblioteca, jamais faltou a uma sessão enquanto pôde. infelizmente, passou por uma fase muito dificil da doença e agora perdemos um companheiro, vamos lamentar muito e vai nos deixar muitas saudades”, declarou o Acadêmico Cicero Sandroni.

O Acadêmico

Sexto ocupante da Cadeira nº 20, foi eleito em 25 de março de 1999, na sucessão de Aurélio de Lyra Tavares e recebido em 7 de junho de 1999 pelo Acadêmico Arnaldo Niskier.

Murilo Melo Filho nasceu em Natal no dia 13 de outubro de 1928. Filho de Murilo Melo e de Hermínia de Freitas Melo, é o mais velho de uma irmandade de sete. Fez o curso primário no Colégio Marista e o colegial no Ateneu Norte-Riograndense. Aos 12 anos, ainda de calças curtas, começou a trabalhar no Diário de Natal, com Djalma Maranhão, escrevendo um comentário esportivo e ganhando o salário de 50 mil réis por mês. Trabalhou, a seguir, em A Ordem, com Otto Guerra, Ulysses de Góes e José Nazareno de Aguiar, e em A República, com Valdemar de Araújo, Rivaldo Pinheiro, Aderbal de França, Luís Maranhão e Luís da Câmara Cascudo; na Rádio Educadora de Natal, com Carlos Lamas, Carlos Farache e Genar Wanderley; e na Rádio Poti, com Edilson Varela e Meira Filho.

Aos 18 anos, veio para o Rio, onde estudou no Colégio Melo e Souza e foi aprovado em concursos públicos para datilógrafo do IBGE e do Ministério da Marinha, ingressando a seguir no Correio da Noite, como repórter de polícia.

Trabalhou seguidamente na Tribuna da Imprensa, com Carlos Lacerda; no Jornal do Commercio, com Elmano Cardim, San Thiago Dantas e Assis Chateaubriand; no Estado de S. Paulo, com Júlio de Mesquita Filho e Prudente de Moraes Neto; e na Manchete, com Adolpho Bloch.

Estudou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e na Universidade do Rio de Janeiro, pela qual se formou em Direito. Chegou a advogar durante sete anos. Costumava dizer que quem se forma em Direito pode até advogar.

Como repórter free-lancer, entrou para a Manchete, criando a seção "Posto de Escuta", que escreveu durante 40 anos. Nessa mesma época, dirigiu e apresentou na TV-Rio, com Bony, Walter Clark e Péricles do Amaral, o programa político Congresso em Revista, que ficou no ar ininterruptamente durante sete anos, sendo a princípio produzido e apresentado no Rio e, depois, em Brasília.

Viveu na Nova Capital durante o atribulado qüinqüênio de 1960 a 1965, que testemunhou em centenas de reportagens. Construiu ali a sede de Bloch Editores e da Manchete e foi, a convite de Darcy Ribeiro e de Pompeu de Souza, professor de Técnica de Jornalismo na Universidade de Brasília.

Sempre em missões jornalísticas, acompanhou os ex-presidentes Juscelino Kubitschek a Portugal; Jânio Quadros a Cuba; João Goulart aos Estados Unidos, ao México e Chile; Ernesto Geisel à Inglaterra e à França; e José Sarney a Portugal e aos Estados Unidos.

Cobriu a Guerra do Vietnã, com o fotógrafo Gervásio Baptista, em 1967, e foi o primeiro jornalista brasileiro a cobrir a Guerra do Camboja, com o fotógrafo Antônio Rudge, em 1973, tendo chegado a Saigon e Phnom-Penh, via Tóquio.