Lula ainda não é inocente – nem culpado

09 de Março 2021 - 10h18
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Dias atrás escrevi o texto Lá vem Lula neste mesmo espaço (https://grandeponto.com.br/blog/post/la-vem-lula). E desde ontem parece claro que ele pode vir mesmo.

O que ora ponho abaixo foi dito em linhas gerais, por mim, em redes sociais e em troca de mensagens com amigos, alguns lulistas/petistas abertos, outros apenas defensores dele contra presumidas injustiças cometidas e alguns opositores – leves e ferrenhos, entre os quais bolsonaristas.

Não sou da área jurídica, mas levanto, inicialmente, um questionamento de direito: Se Lula é inocente, porque a justiça federal sediada em Curitiba era incompetente para julgá-lo, então: 1) as gravações hackeadas como prova da atuação ilegal da força-tarefa da Lava Jato não podem ser usadas contra ela? 2) o dinheiro recuperado terá de ser devolvido aos "donos'?

O PT talvez deva festejar a decisão do ministro Édson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), cada vez menos supremo (e aqui não vai crítica, ainda, à decisão de Fachin). Eu, se petista fosse, vê-la-ia com reserva.

Minha visão é que a decisão de Fachin foi boa para Lula, muito boa para Bolsonaro e excelente para Sérgio Moro. Para o Brasil, um desastre.

Boa para Lula porque lhe permite livre trânsito, com possibilidade de se candidatar a presidente no próximo ano. Particularmente, acho difícil que o faça, pela idade avançada, pela dificuldade de uma eleição presidencial num país como o Brasil, de dimensões continentais, entre outras coisas. Além disso, não creio que Lula, pelo passado político e pelo ego que tem, embarque numa canoa furada. Ele certamente aguardará as pesquisas de opinião e, mais ainda, o humor dos prováveis aliados e a situação do país para definir o rumo a tomar.

Do ponto de vista político, a eleição presidencial de 2022 e por tabela todo o pleito serão palco para os extremos atuarem de novo, caso a disputa ponha em lados opostos as turmas de Lula e de Bolsonaro. Como em 2018. Ciro Gomes já se pronunciou contrário ao circo que o PT e satélites estão montando para alçar Lula à cabeça de chapa de uma frente de esquerda. Gostaria de ouvir Marina Silva e Guilherme Boulos sobre a possibilidade de embarcar na canoa petista, com ex-presidente conduzindo-a. Eu, se petista fosse, veria Lula-2022 com reservas.

Para Bolsonaro, um Lula ficha-limpa pode ser o caminho aberto para que ele, Bolsonaro, invista mais e mais na polarização, acusando o sistema de ser corrupto, imoral e por aí vai, apresentando-se, mesmo que as credenciais estejam bastante desbotadas, como o paladino da moralidade, figurino usado em 2018.

É um erro atribuir a polarização apenas a Bolsonaro, ainda que ele seja, nos dias que seguem, de 2018 para cá, um dos maiores beneficiários dela. Para sermos justos, a polarização começou com o PT apostando no discurso do “nós contra eles”, nas fakenews lançadas contra Marina Silva na campanha presidencial de 2014, etc. Quis ser esperto e malandro, e a esperteza e a malandragem lhe engoliu, porque Bolsonaro cresceu no vácuo e ali se instalou. A radicalização e a polarização não são boas para a democracia. Fragiliza-a, porque destrói a boa convivência entre os contrários. Isso era lição para estar aprendida, mas...

Sérgio Moro foi rifado por ele mesmo ao aceitar ser ministro do atual governo. Estava politicamente marginalizado, mas pode ganhar gás com a decisão do ministro do STF, pois ela vai pô-lo como vítima do sistema corrupto e, ao mesmo tempo e uma vez mais, como herói que luta praticamente sozinho contra esse sistema corrupto.

Continuo dizendo – e posso ser desmentido pelos fatos – que Lula é um cadáver insepulto. Faz tanto mal ao país quanto o atual presidente. Ambos envenenam e deixam o ambiente tóxico.

São especulações, até porque a decisão de Fachin é liminar e está escorada apenas em questão processual, sem vislumbrar o mérito. Nada diz sobre inocência ou culpa de Lula, apesar de quase todos os crimes praticados pelo ex-presidente estarem praticamente prescritos. E há um Gilmar Mendes no STF, adversário figadal da Lava Jato e, portanto, de Sérgio Moro.

As fichas estão na mesa.