Machismo fez Brasil perder fenômeno do futebol feminino para os EUA

10 de Março 2021 - 03h19
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Uma reportagem do Correio Braziliense, de 30 de novembro de 2008, avisava: "Aos 9 anos, menina é um prodígio no futebol". A garota mencionada é a maranhense Catarina Macario, que se destacava contra os meninos e caminhava para ser uma estrela brasileira no futuro. Pouco mais de 12 anos depois, a atacante chegou à seleção, mas não para jogar ao lado de Marta. Sem chances no Brasil, se mudou para os Estados Unidos na adolescência e agora defende a equipe mais vezes campeã do mundo entre as mulheres.

Catarina se destacava no futsal e no futebol de campo, mas os questionamentos sobre sua presença aumentavam conforme crescia. "A gente teve que fazer todo o meio de campo para explicar que ela não atrapalhava em nada a categoria. Ela tinha grande destaque nas competições", relembra André Amâncio, que treinou Catarina dos 8 aos 10 anos no PIN/Asbac, time de futsal de Brasília.

Foi quando estava perto de completar 12 anos que ela viveu o caso que fez a família pensar em mudança. O pai José Macario conta que a filha iria disputar um torneio de futsal com os meninos, mas, na última hora, foi impedida de participar. "É muito dolorido você ver alguém dizer que sua filha não pode jogar. Não pode por quê? Aquilo ali foi algo terrível para mim", diz. Incomodado, escreveu um e-mail para uma escola em San Diego, nos Estados Unidos, pedindo uma chance para Catarina. Ela foi aceita e deixou o Brasil. Abandonou também o sonho de vestir a camisa da seleção brasileira.

"Eu não tive mais oportunidade de jogar com os meninos no Brasil, porque tinha uma regra que não me deixava jogar com eles depois dos 12 anos. Também não tinha nenhum time feminino que eu sabia que era bom. A única outra opção era ir para os Estados Unidos", explica Catarina.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tentou convocá-la aos 13 anos para disputar um torneio sub-17. Catarina não quis. "Claro que eu fiquei muito honrada, mas foi uma decisão em família. Eu me senti acolhida pelos Estados Unidos, porque era como se eles não gostassem apenas do que eu estava fazendo lá, mas eles valorizavam o futebol feminino em todos os lugares. E naquele momento eu só queria focar no meu novo país, nos meus estudos. Isso tudo fez com que a decisão fosse mais fácil", explica Catarina.

Enquanto a CBF tentava recuperar a joia que se foi, os Estados Unidos apostavam na permanência de Catarina. Com a ajuda da ex-técnica da seleção local Jill Ellis, a família deu entrada no visto de permanência da menina de 13 anos por habilidades especiais, dado apenas para pessoas que demonstrem capacidades extraordinárias em sua área de atuação. O processo durou três anos.

Com informações de UOL