Marx, as inspirações literárias do Manifesto Comunista e o mundo real

25 de Outubro 2020 - 20h45
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Um dos mais belos textos de Karl Marx e Friedrich Engels, o Manifesto Comunista tem passagens que não deixam dúvidas da influência de Shakespeare na pena marxiana e de seu maior parceiro intelectual.

A mais famosa, porém, sem ser inspirada no grande bardo inglês, deitou raízes no inconsciente dos esquerdistas de todo o mundo. “Tudo o que é sólido desmancha no ar” foi um momento de inspiração literária divina do filósofo materialista nascido na Alemanha na primeira metade do século XIX.

Teórico do materialismo histórico, não passaria pela cabeça de Marx invocar a Deus, como o fazem alguns dos seus discípulos atuais baseados nestes trópicos esquecidos por Deus e por grande parte da intelectualidade ocidental.

Há partidos que carregam abertamente a bandeira do socialismo e há os que a escondem. Há os lobos e há os lobos em pele de cordeiro.

Já tendo experimentado as benesses do poder, os comunistas brasileiros esqueceram tudo aquilo pelo que um dia disseram lutar. Esqueceram grande parte do que foi teorizado e que deu origem aos amontoados de indivíduos presumidamente vinculados por laços ideológicos que preconizam a socialização da riqueza.

Um dos partidos brazucas que ainda carrega comunista no nome já reverenciou o camarada Mao Tsé-tung (China), reconhecidamente um assassino, e, depois, o camarada Enver Hoxha, gênio e farol da humanidade que um dia fez nascer um colosso de liberdade e desenvolvimento na Albânia, não está morrendo porque nasceu sobre uma proposta de paraíso inexequível e mesmo mentirosa e, depois, foi entregue a mentirosos que acreditaram ser possível fazer a todos acreditarem nela.

Com alguns poucos votos espalhados por este imenso Brasil, a agremiação partidária conta nos seus quadros com um ateu deísta, que, quando presidente da Câmara de Deputados, invocou a Deus para conter o ímpeto de colegas parlamentares no plenário daquela casa legislativa), já teve líderes que se mantiveram fiéis às suas ideias até o leito de morte (um recusou a extrema unção que um padre católico chegou para lhe dar), já foi liderado por um dos homens mais perseguidos politicamente no país, preso por regimes ditatoriais e democráticos apenas por ser comunista e chegou a arrebanhar para as suas fileiras uma malta de oligarcas e aproveitadores interessados apenas em cargos públicos e negociatas.

Como os seus congêneres espalhados pelo mundo, os nossos comunistas se disfarçam para subtrair os cofres públicos, arregimentam estudantes para formar novos quadros e dizem lutar pela população pobre e pelos trabalhadores.

Para utilizar um termo em moda e dando-lhe sentido diferente do usualmente empregado, os líderes comunistas saem do armário e veem deles correrem os fantasmas que estão assombrando os seus partidos, confirmando o que eu, ainda no início da idade adulta, já sabia: o sol nos trópicos bate forte o suficiente para derreter os ideais mais idealistas, mas é condescendente para manter de pé as viciadas estruturas psicossociais.

“Tudo o que é sólido desmancha no ar”, disse o grande filósofo alemão que construiu uma utopia realmente irrealizável, porque mata o mais precioso bem do homem depois da vida, a liberdade. De fato, camarada Marx, tudo o que é sólido desmancha no ar, menos a picareta que os camaradas e companheiros empunharam e empunham para dilapidar o Erário e o óleo de peroba com o qual lustram os rostos aparentemente angelicais.