Médico é preso por se recusar a atender delegado com Covid antes de pacientes que aguardavam na fila

29 de Janeiro 2022 - 09h44
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O médico Fábio Marlon Martins França, de Goiás, foi preso no fim da tarde da útima quinta-feira (27) após confusão com o delegado da cidade, Alex Rodrigues da Silva. Segundo testemunhas, o policial, que testou positivo para Covid-19, queria ser atendido com antecedência, à frente dos pacientes que já esperavam, e o profissional de saúde negou o atendimento. 

O médico foi autuado em flagrante pelos crimes de exercício irregular da profissão, desacato, resistência, desobediência, ameaça e lesão corporal. Na manhã da sexta-feira (28) a Justiça mandou relaxar a prisão e soltar Fábio França. O caso é apurado pela corregedoria da Polícia Civil.

Segundo testemunhas, o delegado chegou em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) de Cavalcante com sintomas gripais na manhã de quinta. Ele realizou um teste rápido para detectar Covid. Mais tarde, quando o resultado já estava disponível, ele voltou para checar e descobriu que estava com a doença.

O policial teria, então, solicitado que o médico que estava de plantão, no caso Fábio França, o atendesse. No entanto, foi informado que não seria possível fazer isso imediatamente, pois haviam outras pessoas à espera e que o atendimento era por ordem de chegada.

O delegado então saiu da UBS e voltou mais tarde, acompanhado de dois agentes policiais. Houve uma discussão e o médico saiu do local preso em flagrante. A primeira justificativa foi de que ele exercia a profissão irregularmente por não ter registro no Conselho Regional de Medicina.

De acordo com os policiais civis, o médico reagiu à prisão e os desacatou. Ele foi levado para a delegacia da cidade e, de lá, encaminhado para o presídio de Alto Paraíso de Goiás, ainda na noite de quinta. Ele dormiu na cadeia.

Em nota, a Prefeitura de Cavalcante lamentou o episódio e manifestou “profunda insatisfação com as ações desproporcionais cometidas por agentes da Polícia Civil contra o médico Dr. Fábio Marlon Martins França”.

Conforme a nota, assinada pelo prefeito da cidade, Vilmar Souza Costa, o Vilmar Kalunga, e a secretária de saúde, Gessiele Batista Dias Fernandes, os dois acompanharam o caso de perto desde o começo, prestando apoio ao profissional.

Segundo eles, o médico “é bastante querido pela população e colegas de trabalho e não há nenhum registro que desabone a sua conduta até o momento. A situação está sob investigação e temos convicção de que tudo será devidamente esclarecido e esse triste episódio não marcará a carreira do Dr. Fábio”, disseram.

Também por meio de nota, a Polícia Civil de Goiás deu a sua versão do caso. A corporação explicou que o delegado esteve no consultório com sintomas de Covid-19 na manhã de quinta. Daí, no decorrer do dia, nas visitas que fez ao posto médico para tratar de seus exames, e em decorrência da forma em que o profissional o atendia, o delegado foi informado de que o médico estaria atuando de tal maneira por insegurança, dado ao exercício profissional irregular praticado.

A polícia informa que foram realizados levantamentos técnicos sobre o registro profissional do “suposto médico”, Fábio França. Constatou-se, então, que o registro do médico junto ao Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) estava cancelado.

O delegado então procurou o médico para esclarecer o fato, quando Fábio França teria se alterado e ofendido o policial e equipe. Tais fatos, conforme a polícia, poderiam ser confirmados por testemunhas no local, inclusive uma enfermeira. O médico foi preso e encaminhado à delegacia.

A Delegacia-Geral de Polícia Civil informou que determinou o acompanhamento do caso pela gerência de correições e disciplina. Acrescentou, ainda, que a corregedoria da Polícia Civil de Goiás acompanhará o caso em toda sua extensão.

“A PCGO reafirma seu compromisso com os cidadãos, colocando-se sempre no mesmo nível que os demais goianos e nunca corroborando com atitudes de abuso de autoridade”, explica a nota.

O médico foi solto na manhã desta sexta por ordem de decisão do juiz Fernando Oliveira Samuel.

Na saída da cadeia, em Alto Paraíso, o médico foi recebido pelo prefeito de Cavalcante, Vilmar Kalunga, e por vereadores e pessoas da cidade, que foram prestar solidariedade. O profissional de saúde disse que não se arrepende do que fez. “Todos têm que ser iguais. Temos protocolos e temos que cumprir isso, independente do cargo”, afirmou.

Ele acrescentou que não é pelo fato de uma pessoa ter um cargo superior que irá passar à frente de outras pessoas que já aguardavam atendimento na UBS.

“Se esse é o preço para eu pagar, então que me prenda novamente, porque toda vez que acontecer isso eu vou fazer a mesma coisa. Não me arrependo de nada”, frisou.

Com informações do Metrópoles