
O ministro da Educação, Milton Ribeiro, atuou nos bastidores a favor de um centro universitário denunciado por fraude no Enade 2019. A instituição é presbiteriana, assim como o ministro, que é pastor.
A fraude teria ocorrido no curso de biomedicina da Unifil, de Londrina (PR), a partir do vazamento da avaliação do ensino superior.
Investigação do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) concluiu haver fortes indícios, sobretudo estatísticos, de fraude após a coordenadora da graduação ter tido acesso à prova e às respostas com antecedência.
O ministro Ribeiro tratou do caso pessoalmente. Ele recebeu os controladores da instituição e viajou a Londrina no meio do processo, além de ter determinado que seu próprio secretário acompanhasse uma visita de supervisão.
A instituição tem ligação com a Igreja Presbiteriana Central de Londrina. O chanceler da Unifil é o pastor Osni Ferreira, líder dessa igreja —seu irmão Eleazar Ferreira é o reitor.
Osni e Eleazar foram recebidos por Ribeiro em seu gabinete em 2 de setembro do ano passado.
A investigação interna do MEC contra a instituição já estava adiantada nessa época. No dia 26 daquele mês, um sábado, Milton Ribeiro viajou à Londrina, sem assessores da pasta, para visitar a Unifil. Ele deu uma aula e concedeu entrevista com elogios à instituição.
Ribeiro ainda aproveitou a mesma viagem para fazer uma pregação, no dia seguinte (27), na igreja comandada por Osni, apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Em março do ano passado, ele convocou uma carreata para defender o presidente e criticar restrições de circulação.
Ao longo da apuração, o ministro protelou o envio do caso à Polícia Federal, segundo pessoas próximas ao caso. A área técnica e a Procuradoria do Inep haviam concluído pela necessidade da investigação criminal desde meados de 2020.
Ribeiro teria chegado a ameaçar de demissão lideranças do Inep caso a investigação fosse levada à PF. Na época, Alexandre Lopes presidia o órgão.
A informação sobre a atuação de Ribeiro foi confirmada à Folha por três pessoas do alto escalão envolvidas com o tema. O recado teria sido dado pelo secretário-executivo da pasta, Victor Godoy Veiga.
Em conversas e em reuniões no MEC, de acordo com pessoas envolvidas no caso, o ministro e seu principal assessor foram claros sobre o motivo para impedir a apuração criminal: tratava-se de uma instituição presbiteriana.
Um ofício só foi levado à Polícia Federal em fevereiro deste ano, após o MEC ter encerrado a investigação de forma favorável. Evidências estatísticas da fraude, apuradas pelo Inep, foram ignoradas na decisão.
Em nota, a pasta informou que o caso foi enviado à autoridade policial. "Toda a apuração foi realizada pelo MEC de maneira técnica, observando-se os dispositivos legais. Todos os atos administrativos praticados estão adequadamente registrados no processo administrativo encaminhado na íntegra à Polícia Federal pelo MEC em fevereiro de 2021", diz nota do ministério.
A Unifil não respondeu aos questionamentos enviados desde o dia 27 de abril.
Com informações da Folha