Não há saúde sem esgotamento sanitário

12 de Abril 2020 - 21h10
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De tempos em tempos, o Brasil tem de encarar o espelho e, quase sempre, a imagem que vê não é das melhores.

Está sendo assim neste momento, quando não só o país mas o mundo foi posto em xeque por um vírus.

Queremos ser grandes e desenvolvidos, no entanto não nos esforçamos muito para isso.

De nada adianta se proclamar grande e rico, porque grandeza e riqueza não são construídas com retórica, mas com trabalho e distribuição de riqueza.

O nosso ufanismo jeca uma vez mais precisa sair de cena para que encaremos a dura realidade: as nossas Escolas (do ensino médio ao superior) são um desastre, os nossos hospitais estão abandonados pelo poder público, as nossas cidades estão mergulhadas em fezes e urina e grande parte de nossa população mora e come mal.

Tudo isso já era sabido, o coronavírus apenas arregaçou, afinal não é segredo para quase ninguém que grande parte das nossas residências não têm fossa séptica; as saneadas jogam os seus efluentes, sem tratamento, em rios e no mar.

O rio Potengi, que divide Natal ao meio, é uma prova da irresponsabilidade criminosa de prefeitos e governadores.

O coronavírus tem tudo para fazer história por aqui por sua entrada triunfal em cena.

Mas, vamos e venhamos, se formos pensar em regularidade, os coliformes fecais são mais longevos e efetivos e têm batido um bolão.

Os fatores para a sua efetividade podem ser indicados por dois fatores: legislação leniente e ignorância e imediatismo da população e dos governantes.

Os indicadores de qualidade de vida no Brasil, nos últimos cento e vinte anos, mostram que evoluímos – e muito – em vários aspectos, exceto em um.

Os números não deixam dúvidas: a coleta e tratamento de esgoto permanece, digamos, estacionados. Mais de 50% da população ainda não tem acesso ao benefício.

Não é preciso ser gênio para saber que a falta de esgotamento sanitário contribui significativamente para a proliferação de doenças, que, segundo dados oficiais, são responsáveis pela internação de mais de setecentas mil pessoas por ano.

O investimento no setor certamente traria mais benefícios para a saúde do que a construção de hospitais, a compra de equipamentos sofisticados e a contratação de médicos e enfermeiros.

A ignorância da população sobre o assunto alimenta a fome de prefeitos e governadores por investimentos mais vistosos e menos benéficos para o povo, levando-os a gastar mais em obras que serão menos efetivas e eficazes do que enterrar canos e montar estações de tratamento de efluentes.

A chegada ao palco do coronavírus mostra que em muitas residências do país faltam banheiro, água tratada e rede de esgoto para coletar e tratar fezes e urina.

Um dia, talvez, saíamos da m...