O Santos de Pelé, Coutinho e Pepe também teve o seu Tite. Era o chamado jogador versátil, jogando nas duas pontas ou demais posições do meio e ataque. Jogou no Peixe em duas temporadas (1951/1957 e de 1960/1963). Era excelente jogador, driblador nato. É o décimo artilheiro na história do Santos, com 151 gols em 475 partidas. Junto com o outro santista, Zito, estava em campo na partida de estreia de Pelé na seleção brasileira, contra a Argentina, pela Copa Roca, em 07.07.1957. Conta a história que foi ele quem ensinou Pelé a tocar violão.
Numa excursão pela América do Sul, em 24.01.1962, o Santos vencia fácil o Sporting Cristal, em Lima/Peru por 3x0, gols de Coutinho, Pepe e Dorval. Tite completava o ataque do time junto com Pelé, mas estava esquecido no jogo, abandonado na ponta-esquerda, enquanto a ciranda da bola se resumia aos quatro cavaleiros do apocalipse santistas, que, inadvertidamente, sonegavam o direito de Tite participar do jogo.
De repente, Pelé se lembrou do colega de linha de ataque. Era hora de dividir os louros também com o ponta. Recebeu a bola na entrada da área, driblou dois zagueiros com a finesse que lhe era peculiar, invadiu a área adversária e já com o goleiro peruano batido, ao invés de entrar com bola e tudo, preferiu rolar a bola mansa para Tite com o gol escancarado. Tite deu um toque desligado, desviando a bola, de leve, pela linha de fundo. Pelé e a equipe puseram as mãos na cabeça e cobraram dele a falha:
- Assim não é possível!!! – gritou Pelé para o companheiro.
O veterano, que já estava prestes a encerrar a carreira, sem querer encarar o negão, respondeu com orgulho:
- Gol de esmola eu não faço.
Doze anos antes da célebre “Carta Aberta ao Número 10, Pelé”, escrita pelo jornalista De Vaney e publicada no jornal Cidade de Santos, acusar o Rei do Futebol de humilhação aos seus companheiros de equipe por nunca se importar que os colegas de elenco fossem chamados de “Pelé & Cia”, “Pelé e mais dez”, Tite, sutilmente, lançou seu protesto.
O jogo terminou 5x1, com os outros dois gols marcados exatamente por Tite e Pelé, ou seja, cada um da linha atacante deixou o seu, sem esmolas.
Créditos de informações e imagens para criação do texto: “O canto dos meus amores” (Armando Nogueira); Os donos do espetáculo: histórias da imprensa esportiva do Brasil (André Ribeiro); http://acervosantosfc.com/confrontos-santos-x-sporting-cristal/;