
Vez por outra ouço e leio que o presidente Jair Bolsonaro age como um louco, que é irracional e por aí vai.
Há de tudo nas ações de Bolsonaro, menos irracionalidade.
Bolsonaro age racionalmente, com método.
Política não se faz no palco.
Ela é quase toda feita nos bastidores.
No palco são passadas mensagens e sinalizações para aliados, para adversários e para o público/povo.
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O que Bolsonaro faz, ao contestar o isolamento horizontal e pregar a introdução do isolamento vertical, é preparar o terreno pra responsabilizar prefeitos e governadores pela crise econômica pós-crise sanitária.
Nicolau Maquiavel disse que um “homem esquece mais facilmente a morte do pai do que a perda do patrimônio” e que, por vezes, a sua ambição pode ser “tão grande que, para satisfazer uma vontade presente, não pensa no mal que daí a algum tempo pode resultar dela.”
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Ao bater no então ministro da saúde, Henrique Mandetta, Bolsonaro pretende tirar de cena um potencial rival política que correria na mesma raia eleitoral dele em 2022.
O DEM controla o Congresso Nacional, com Rodrigo Maia presidindo a câmara de deputados e Davi Alcolumbre, o senado. Ambos praticamente manietam o governo Bolsonaro, mas não garantem ao partido a possibilidade de chegar ao Planalto, sonho acalentado e nunca concretizado.
“Mandetta é um técnico competente”, muita gente disse sobre o ex-ministro.
Mandetta estava numa função técnica, mas era da cota política do DEM (ex-PFL) e agiu, em grande medida, como político, gabaritando-se como nome nacional, o primeiro do PFL/DEM desde Luiz Eduardo Magalhães, que morreu presidente da câmara de deputados, em 1998, ao final do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso.
Luiz Eduardo Magalhães era o nome do então PFL para concorrer à presidência da república em 2002, com alguém do PSDB como companheiro de chapa.
A morte precoce dele deixou o PFL órfão e só agora surge nome nacional para possivelmente concorrer ao Planalto em 2022.
É o melhor momento do DEM nas últimas duas décadas.
O partido certamente escalou Rodrigo Maia, Davi A e Ronaldo Caiado para chutar as canelas de Bolsonaro, enquanto Mandetta passava a imagem de técnico e estadista.
Se Mandetta colar como nome nacional, será nome do campo conservador como alternativa a Bolsonaro.
O grupo de Bolsonaro sabe disso e desgastou o ex-ministro da saúde, fazendo-o sair menor do que estava.
A desconstrução ainda não foi completada.
Se representar ameaça política, à demissão seguir-se-ão, lançada nas mais variadas mídias, por bolsonaristas e esquerdistas, denúncias contra ele.
É do jogo.