ONG de craque da seleção levanta suspeita por já ter o dobro de recursos da CBB para basquete

06 de Abril 2022 - 03h49
Créditos:


Criado em maio do ano passado, o Instituto DNA, do jogador de futebol Daniel Alves, já tem pelo menos o dobro de recursos públicos para gerir no basquete brasileiro na comparação com a própria Confederação Brasileira de Basquete (CBB). 

Responsável pela organização da Copa América Masculina, marcada para o segundo semestre deste ano, o Instituto DNA ainda prometeu criar uma seleção permanente de 3x3 e realizar um grande evento da modalidade ainda neste ano. A entidade, porém, pode pular fora desses projetos depois que a Folha de S.Paulo revelou, ontem (4), que o instituto é, na verdade, uma "ONG de prateleira".

Incomodado com a repercussão negativa do fato, e vendo inclusive seu futuro na seleção brasileira ser colocado em xeque, Daniel Alves cogita não levar adiante dois projetos de Lei de Incentivo que, juntos, já captaram cerca de R$ 5 milhões. Foi ele, inclusive, quem assumiu a responsabilidade de pagar US$ 500 mil à Federação Internacional de Basquete (Fiba) como 'fee' (taxa) para realizar a Copa América no Brasil. Por enquanto o valor não foi desembolsado.

Atuando no Barcelona, Dani Alves tem no empresário Maurício Carlos seu braço no Brasil. Quando o jogador assumiu o comando do antigo Instituto Liderança, que pertencia a um ex-técnico de basquete, mudando o nome da ONG para Instituto DNA, ele atribuiu a Maurício o cargo de diretor-executivo/CEO. O lateral ficou como presidente.

Ainda antes de voltar ao Brasil, ele encontrou em Maurício um consultor com experiência na área, com anos de trabalho para entidades como a Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e a Confederação Brasileira de Wrestling.

O basquete chegou à dupla através de uma conversa com o ex-jogador da NBA Leandrinho Barbosa, que falou das dificuldades enfrentadas pela CBB. A entidade queria organizar a Copa América Masculina de 2021 no Brasil, mas não tinha dinheiro para pagar um fee de US$ 1 milhão, nem a documentação necessária para receber verbas públicas. Quando Daniel Alves topou entrar no negócio, e sabendo que a concorrente Venezuela corria o risco de sofrer boicote do time dos EUA, conseguiu que o valor fosse reduzido a US$ 500 mil e o negócio foi fechado --nessa época, o evento já tinha sido adiado para 2022 por causa da pandemia. O lateral entendia que a Copa América seria seu cartão de visitas no ramo do marketing esportivo.

A partir de então foi construído um plano de negócio complexo, com a CBB informando a imprensa que o evento era uma parceria dela com a "holding de Daniel Alves", sem dar mais detalhes. Na época, Maurício já foi apresentado como diretor-executivo do evento, mesmo cargo que ele ocupa na ONG de Dani Alves.

Em novembro, o Instituto DNA conseguiu aprovar na Lei de Incentivo ao Esporte um projeto de R$ 5 milhões para, com essa verba, pagar o fee e a hospedagem de atletas e outras pessoas envolvidas no evento. Paralelamente, a deputada Celina Leão (PP-DF) se comprometeu com uma emenda de R$ 3,5 milhões para a mesma ONG, liberada pela Secretaria Especial do Esporte em dezembro.

Contando os R$ 3,5 milhões da emenda parlamentar, a ONG de Daniel Alves já tem ao menos R$ 8 milhões em recursos públicos para gerir no basquete, mais do que o dobro dos R$ 3,6 milhões prometidos pelo COB à CBB. Mas a receita do Instituto DNA é ainda maior, porque a Usiminas também se comprometeu a pagar a realização de um grande meeting internacional de 3x3 em Ipatinga em outubro e a prefeitura assinou na semana passada um protocolo de intenções para construir um centro de treinamento para a seleção da modalidade, sempre com Daniel Alves como intermediário. Alguns dos principais atletas do país já foram contratados para jogar pela cidade.
 

Com informações de UOL