Renato 74

07 de Novembro 2020 - 17h38
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A perda do seletivo de 1974 abreviou a permanência de Erivan - o goleiro do tetra-campeonato estadual de 1970/73 -, como titular absoluto do arco alvinegro e o ABC foi buscar um novo goleiro no Paisandu/PA.

Assim chegou Renato para estrear pelo ABC, usando vistosa camisa amarela com frisos negros nos ombros e com o número 74 às costas, num tempo em que havia a disciplina numérica quase unânime de se usar de 1 a 11 entre os jogadores titulares (*).

E por que, 74? Em 1971, defendendo o Bahia, o saudoso cronista baiano França Teixeira começou uma vasta campanha para levar o goleiro à Copa do Mundo da Alemanha, em 1974, como um dos integrantes da seleção brasileira de futebol. Dizia que, naquele momento, Renato era o melhor jogador do país debaixo das traves.  E terminava sua fala, sempre, com a expressão “Pra frente, Renato 74”.

O goleiro gostou do incentivo e um dia pisou o gramado da Fonte Nova com o número 74, e os repórteres foram pra cima dele, tendo o jogador respondido cheio de marra:

- “Apenas acho que estarei entre os que irão à Copa da Alemanha, e por isso, a partir de agora, vou usar o 74 para dar sorte. Não sou melhor do que Félix ou Ado, mas também não sou pior”.

Em 1972, com a chegada do argentino Buttice à boa terra, Renato perdeu a posição de titular e deixou o tricolor pouco tempo depois.

A comissão técnica da antiga Confederação Brasileira de Desportos – CBD, não despertou à atenção para o goleiro. Para a Alemanha foram convocados o outro Renato (do Flamengo), Leão e Wendell (este sendo cortado por contusão e substituído por Waldir Peres), mas Renato manteve a tradição e continuou utilizando o número 74 às costas.

No ABC não ganhou maiores expressões, disputando com Floriano a condição de titular, uma vez que Erivan foi emprestado ao Força e Luz.

Deixou o ABC e alternou bons e maus momentos em outros clubes como o Treze de Campina Grande-PB, Ferroviário-CE, Sampaio Correia-MA, Moto Clube-MA, Volta Redonda-RJ e Campinense-PB, onde encerrou sua carreira, em 1985, aos 38 anos.  

Faleceu no ano seguinte, em Campina Grande, com 39 anos, vitimado por cirrose hepática.

Embora tendo passado pouco tempo no Mais Querido, aquela figura esguia, de cabeleira cheia, usando camisa amarela e com o número 74 às costas, ainda é lembrada pelos saudosos torcedores que acompanharam, fielmente, os jogos do ABC no antigo Castelão, no ano de 1974.

(*) Curiosamente, no mesmo ano, o goleiro do América era Ubirajara, que jogava com a camisa 77, enquanto Itamar, do Potiguar de Mossoró, usava o 78.