
Em um editoral publicado neste domingo (2), o jornal O Globo afirmou que o desemprego em queda no Brasil é reflexo da reforma trabalhista realizada durante o governo de Michel Temer, que foi aprovada em 2017.
No trimestre encerrado em abril deste ano, a taxa de desemprego ficou em 7,5%, sendo um ponto percentual abaixo do registrado há um ano quase metade do resultado registrado em 2021, que foi de 14,7%. Com esse percentual, é o menor número para o período desde 2014.
Leia na íntegra o editorial do O Globo:
Desemprego em queda é reflexo de reforma trabalhista
Mudanças de 2017 são principal fator para ampliação de vagas formais. Educação responde por maior renda
No trimestre encerrado em abril, o desemprego ficou em 7,5%, 1 ponto percentual abaixo do registrado há um ano e quase metade do resultado em 2021 (14,7%). É o menor número para o período desde 2014. E tem mais: a melhora no mercado de trabalho acontece enquanto o rendimento médio continua subindo. Em um ano, ele deu um salto de 4,7%, revelam dados do IBGE. No pior momento da pandemia, ninguém previa uma recuperação tão forte.
Os altos e baixos do desemprego são cíclicos, mas algo aparentemente distinto parece acontecer desta vez. Tem crescido também a proporção de empregos formais, que garantem mais direitos aos trabalhadores e paridade na competição entre as empresas. No primeiro trimestre, foram firmados mais contratos com carteira assinada que no mesmo período nos dois anos anteriores. Em abril, o saldo de empregos formais, segundo o Ministério do Trabalho, alcançou 240.033 postos, melhor resultado para o mês desde 2013. O contraste com a recuperação depois da recessão entre os anos 2014 e 2016 é evidente. Na crise anterior, a retomada foi puxada por empregos informais.
O que explica a criação de vagas formais? A hipótese mais provável, de acordo com os economistas, é que ela seja reflexo da reforma trabalhista feita no governo Michel Temer. Aprovadas em 2017, as mudanças passaram aos trabalhadores os custos com advogados em caso de derrota na Justiça. Ao desestimular a indústria do litígio, a reforma reduziu a quantidade de processos na Justiça do Trabalho. Com menos chances de perder tempo e dinheiro com ações trabalhistas, as empresas se sentiram seguras para contratar mais empregados formais.
A justificativa para a alta salarial tem outra natureza. Economistas especializados em mercado de trabalho acreditam que a explicação é a mudança na composição educacional da população ocupada. “Tomando o quarto trimestre de 2023 contra o quarto de 2022, 37,4% da alta da renda real derivou da melhora educacional”, afirma Luiz Guilherme Schymura, do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ibre).
Embora alvissareiros, os dados sobre desocupação e renda exigem cuidados, pela pressão que exercem na inflação. Com mais dinheiro em circulação, aumenta a demanda por serviços e produtos. Ao GLOBO, Fernando de Holanda Barbosa Filho, pesquisador de economia aplicada do FGV-Ibre, reconheceu que a situação “impõe alguma restrição à política monetária”. Para Claudia Moreno, economista do banco C6, uma piora contínua das expectativas de inflação pode levar o Banco Central a pausar o ciclo de cortes no atual patamar de 10,5% ao ano.
Eventuais ajustes na política de juros poderão ter efeitos negativos na expansão do PIB, crucial para a criação de empregos. Mas, mesmo que a previsão de juros mais altos se confirme, não há motivo para o debate se perder em questões circunstanciais. O próprio trabalhador é o maior interessado no combate ao descontrole dos preços. O relevante é lembrar as condições estruturais que permitiram ao país usufruir este momento positivo no mercado de trabalho. Para criar mais e melhores empregos, é imprescindível a leitura correta das causas. Há fartura de indícios em favor de novas reformas para, de um lado, descomplicar ainda mais as relações trabalhistas e, de outro, promover novas melhorias na educação.