
Por Sérgio Trindade e Thiago Valentim
Viradas eleitorais não são incomuns na história do Brasil. Desde a redemocratização tivemos várias, em eleições presidenciais, estaduais e municipais, como a de Fernando Collor sobre Lula, em 1989; a de Fernando Henrique sobre Lula, em 1994; a de Dilma sobre José Serra, em 2010; a de Geraldo Melo sobre João Faustino, em 1986; a de Aldo Tinoco sobre Henrique Alves, em 1992...
Desde antes da largada até o meio da campanha para prefeitura de Natal, Carlos Eduardo Alves manteve liderança folgada, ameaçando já resolver a contenda no primeiro turno.
De setembro em diante, dissolveu como Sonrisal solto n’água.
O gráfico abaixo destrincha a evolução temporal das intenções de voto por candidato. A linha tracejada demarca o fim do primeiro turno.
Foram coletados os resultados de todas as pesquisas realizadas (desde a primeira em fevereiro pelo Instituto AgoraSei) e expostos em um mesmo gráfico, demonstrando claramente como Carlos Eduardo perdeu votos a partir de setembro.
A evolução de Paulinho Freire e de Natália Bonavides é nítida – principalmente do candidato do União Brasil, que ensacolou grande parte do eleitorado do ex-prefeito. Pelos dados apresentados acima, os institutos de pesquisa não ficaram distantes do resultado das urnas.
Muitos institutos de pesquisa não conseguem acertar ou chegar próximo aos resultados oficiais porque parcela expressiva dos eleitores tem decidido o voto somente no dia das eleições. O Datafolha, em pesquisa feita na eleição de 2018, constatou que em torno de 12% dos eleitores definem o voto no dia do pleito. O artigo Pesquisas eleitorais e mudanças tardias na decisão do voto (https://www.scielo.br/j/op/a/PTRgFK6cD9yfxPzFsssNFZh/) passeia com desenvoltura pelo tema.
Tenho constatado, desde as eleições de 2018, que o eleitorado mais à direita tem se mostrado mais arredio a declarar seu voto e quando declaram podem estar dando informação falsa e isso talvez se reflita nos dados coletados pelos institutos de pesquisa. Já há bibliografia que aborda tal fenômeno, como é o caso de Espiral do Silêncio, de Noelle-Neumann.
Hoje, sem nada de anormal ocorrer e amparado nos dados das pesquisas divulgadas até ontem, Paulinho Freire vence a corrida eleitoral com 53% dos votos contra 40% de Natália Bonavides.
Nos últimos vinte anos, foi registrada, nas eleições municipais, uma virada a cada quatro disputas pelo segundo turno. Foram 63 viradas em 236 disputas entre 2004 e 2020, o que dá um percentual de 27% (https://www.terra.com.br/noticias/eleicoes/em-20-anos-eleicoes-para-prefeito-tiveram-uma-virada-a-cada-quatro-disputas-pelo-2-turno-no-pais,255626088151d9b68eeefb13d7ec131eeuswrssw.html).
A tarefa de Natália Bonavides, segundo lugar no primeiro turno (28%), na disputa com Paulinho Freire (44%) é difícil, mas a candidata petista tem demonstrado garra e a militância está inflamada e atuante, conforme havíamos alertado quando a deputada federal confirmou a presença no segundo round da peleja.