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A prisão de um empresário do setor de coleta de lixo em Salvador em uma operação da Polícia Federal (PF) que mirou um esquema de fraudes em licitações e desvio de emendas parlamentares, chacoalhou o mundo político na Bahia. Isso porque José Marcos de Moura, membro do diretório e da executiva nacionais do União Brasil, é muito próximo do vice-presidente do partido, o ex-prefeito ACM Neto, a ponto de a irmã do político ser sócia do empresário em um avião.
Moura é também íntimo do dirigente da legenda, Antonio Rueda, e detém influência sobre a gestão do sucessor e correligionário de Neto, Bruno Reis.
Conhecido como Rei do Lixo, Moura foi preso junto de outros 14 suspeitos – 13 deles da Bahia, incluindo o empresário – na operação Overclean na última terça-feira. Ele é apontado pela PF como parte do núcleo central de uma quadrilha que teria desviado emendas parlamentares destinadas ao Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS) e a prefeituras que por meio de licitações fraudulentas e superfaturadas.
O dinheiro seria lavado por meio de empresas de fachada. Segundo as investigações, o grupo movimentou R$ 1,4 bilhão nos últimos quatro anos, dos quais R$ 800 milhões apenas em certames firmados em 2024, e Moura é citado como uma liderança responsável pela cooptação de servidores públicos com pagamento de propina para a assinatura de contratos com prefeituras.
Ainda de acordo com a PF, o empresário teria esquematizado um voo privado entre Salvador e Brasília com R$ 1,5 milhão em espécie a bordo de uma aeronave — que não é a mesma em que é sócia a irmã de ACM Neto. O destinatário do dinheiro ainda não é conhecido das autoridades.
Segundo fontes ouvidas pela equipe do blog Malu Gasar, de O Globo, a prisão caiu como uma bomba sobre a política baiana. Embora o contrato de sua empresa, a MM Limpeza Urbana, com a prefeitura soteropolitana não seja objeto da investigação, a proximidade com ACM, potencial candidato ao governo em 2026, lançou dúvidas sobre a extensão das investigações da PF e seus possíveis desdobramentos, além de render constrangimentos para o União Brasil.
De acordo com correligionários ouvidos, José Marcos de Moura frequenta regularmente os escritórios do União Brasil em Brasília, São Paulo e Salvador. Antes de assumir cargos no diretório e na executiva, participou ativamente da costura de chapas na Bahia nas eleições de 2022 e na disputa municipal deste ano.
O consórcio do qual sua empresa faz parte foi agraciado com o serviço de coleta de lixo da Limpurb em 2018 durante a gestão do então prefeito e mantém o contrato até os dias de hoje, já sob o comando de Bruno Reis. Desde então, segundo fontes do partido, Moura ascendeu dentro do círculo íntimo de ACM Neto e passou a ser visto como homem de confiança do líder do carlismo na Bahia.
Moura ingressou formalmente na cúpula do União em junho passado por indicação de ACM Neto, após a eleição de Rueda para o comando do partido em uma guerra travada com o antigo cacique do partido, deputado Luciano Bivar (PE). O empresário, segundo relatos, se aproximou do dirigente partidário, com quem passou a conviver nas sedes da sigla, em festas e celebrações entre amigos.
A defesa de José Marcos de Moura, preso desde a última terça-feira, não foi localizada.
A assessoria da prefeitura de Bruno Reis, procurada para comentar a prisão de um gestor do contrato municipal de coleta de lixo e a suposta influência do empresário sobre sua administração, também não se manifestou.
Moura, aliás, não é o único integrante do União Brasil preso na Overclean. O vereador de Campo Formoso (BA) Francisco Nascimento, preso pela PF, foi flagrado jogando uma mala com R$ 220 mil em dinheiro vivo pela janela de sua casa na tentativa de ocultar os valores antes de ser detido pelos policiais. O montante também foi apreendido.
Francisco é primo do líder do partido na Câmara dos Deputados, Elmar Nascimento (BA), que não é citado nas investigações da PF. Elmar é um dos aliados mais próximos de ACM Neto na política baiana.
Com informações de Blog Malu Gaspar, O Globo
