A democracia relativa

19 de Fevereiro 2024 - 21h54
Créditos: Montagem Internet

Sou – e disse em várias momentos, desde 2013, quando da eclosão daqueles movimentos de rua – daqueles que afirmou o risco que a democracia brasileira corria, afinal ela, a democracia, no Brasil, sempre esteve em risco, desde que por aqui desembarcou. Ou todos esquecemos que poucas vezes e por pouco tempo ela existiu nestes tristes trópicos?

Em 2018 e em 2022, disse e sigo dizendo, o regime democrático balançou – e segue balançando e claudicante.

Votar em Lula (ou em qualquer outro) para salvar a democracia foi falácia criada para impedir a eleição do golpista Jair Bolsonaro, pois o ex-capitão do exército estaria politicamente vitaminado se mantivesse, nas urnas, o mandato presidencial.

Em virtude da quase igualdade, no segundo turno, entre Bolsonaro (o petista venceu por menos de 2%), votar nulo ou branco não garantiria a defenestração do então presidente candidato à reeleição.

Mesmo fortalecido pelo voto popular, o sistema político brasileiro não daria, como não deu em momento algum no primeiro mandato, as condições necessárias para Bolsonaro disparar movimento golpista eficaz conseguir minimamente sequestrar as instituições para efetivar um golpe de Estado – ainda que tivesse a intenção e tivesse planejado algo nesse sentido.

Lula e o PT nunca foram adeptos do regime democrático. Não, pelo menos, da democracia burguesa. A estratégia do PT, porém, nunca foi dar um golpe de Estado, mas conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado controlado pelo partido, processo mais longo de conquista do Estado e que permite à sociedade organizar os grupos oposicionistas.

Enquanto líderes populistas, de direita ou de esquerda, forem seguidos cegamente, o Brasil estará à beira do abismo.

Agora e sempre.

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O mundo dá muitas voltas. O mesmo Brasil que hoje tem presidente considerado persona non grata pelo Estado de Israel foi o responsável, com Oswaldo Aranha, importantíssimo diplomata brasileiro, pela condução da sessão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em 1948. Foi uma sessão especial e responsável pela aprovação da Resolução nº 181 (Plano de Partilha da Palestina) que estabeleceu a criação do Estado de Israel. 

Por ter presidido aquela sessão especial da Assembleia Geral, Oswaldo Aranha inaugurou tradição seguida até hoje pela ONU, a de que o chefe da delegação do Brasil seja o primeiro a proferir discurso na reunião.