A exibição de Cruyff no Brasil em 1976

16 de Agosto 2020 - 07h39
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Em 1976, o Fluminense tinha como presidente o Juiz de Direito Francisco Horta, motivando o futebol carioca com o troca-troca entre jogadores com Flamengo, Vasco e Botafogo e criando uma nova forma de negociação entre as equipes.

Entretanto, em campo o Flu foi eliminado das finais da Taça Guanabara. Fora do primeiro turno do Carioca, Horta tratou de manter a animação do futebol cuidando de trazer o astro Johan Cruyff, então no Barcelona/ESP, para dois jogos de exibição no eixo Rio-São Paulo. A ideia eram dois amistosos entre combinados brasileiros e estrangeiros.

Feita a proposta ao holandês, este aceitou, mas fez exigências. Vinha com a esposa e mais três casais de amigos e de Concorde, última geração de aviões da Air France. O Fluminense era chamado de “A Máquina”, pelo belíssimo futebol apresentado e as estrelas no seu elenco. Horta foi à companhia aérea francesa e sugeriu a propaganda gratuita: "Viaje pela Air France: a máquina”. Recebeu os oito bilhetes de vinda e volta. Ligou para o proprietário do Hotel Nacional e conseguiu a cortesia para o casal Cruyff e 50% para os amigos.

Após a chegada, no comboio que levava as oito pessoas e mais os dirigentes que foram buscar o astro holandês, se percebeu que simpatia não seria o forte do casal durante a estada no país. A modelo internacional Tina, esposa de Cruyff, reclamou da favela da Maré ao deixar o Galeão. Já no Hotel Nacional, embora hospedados na melhor suíte, não gostaram dos aposentos, pois não tinha banheira. Exigiram ir para Copacabana e Horta teve que negociar com o Hotel Meridien para receber os holandeses.

O Brasil participava do Torneio Bicentenário dos EUA e as principais peças estavam a serviço da seleção. Os jogadores convocados para os jogos de exibição receberam um cachê bem inferior ao destinado a Johann Cruyff. Carlos Alberto Torres se negou a jogar na seleção Rio-São Paulo em face do valor a ser pago aos brasileiros, inferior aos estrangeiros. Justificou dizendo que o futebol brasileiro era o único tricampeão mundial e o jogador deveria valorizar-se.   

Na primeira partida (02.06), no Morumbi, Cruyff comandou o time de estrangeiros e abriu o placar com um chute da intermediária. A partida terminou em 1x1. Na segunda apresentação (06.06), no Maracanã, vitória dos brasileiros por 2x1 com gols de Rodrigues Neto e Ziza, enquanto Doval descontou para os de fora. Neste jogo, o holandês jogou somente o primeiro tempo e, no intervalo, correu para o Galeão para pegar o Concorde de volta. Foram 11 dias no Brasil, trinta mil dólares na bagagem e quase nenhum futebol a ser mostrado.

Mais explorado do que o mero passeio de Cruyff pelo Maracanã no segundo jogo foi a indignação da imprensa esportiva com o fato do combinado brasileiro ter jogado com uma réplica do uniforme oficial nacional, sem o escudo da CBD.

Créditos de Imagens e Informações para criação do texto: “O Maquinista” (Marcos Eduardo Neves); Jornal dos Sports; Jornal “O Globo”.