Ainda sobre a direita brasileira

20 de Abril 2021 - 10h21
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Semana passada escrevi neste mesmo espaço que a direita brasileira é burra. Quase que imediatamente, alguns leitores, dentre eles amigos, cobraram-me posicionamento sobre a esquerda, coisa que eu disse, no próprio texto, que faria em outro momento.

Pois bem, o momento ainda não chegou. Permaneço escrevendo sobre a direita brasileira, para reforçar os meus argumentos da semana passada.

Mantenho o eixo do que escrevi semana passada: a burrice passeia pela direita brasileira e escoiceia a todos sem dó e piedade. Inclusive aos fatos, que, para ela, como também para sua congênere do outro espectro ideológico, devem ser ignorados sempre que indicam incoerências.

Tenho um amigo, de esquerda, eleitor de Lula desde sempre, que diz não ser eleitor de Lula, mas que nele vota porque é o único que manifesta e representa os ideais de mudança do sistema. Quando exponho que tal ideia não condiz com os fatos, meu amigo diz que seleciono fatos aleatoriamente para confirmar meus argumentos. Não importa, para meu amigo, se os fatos em série que trago à tona são verdadeiros ou não, pois, para meu amigo, eles devem ser desprezados porque vão de encontro à paixão política que ele tem.

É assim que se comporta, de um modo geral, também a direita brasileira. Ignora e repudia os fatos quando eles se opõem às suas crenças. Por isso, uma vez mais afirmo: a burrice ou má-fé ou ambos consomem a direita e a esquerda brasileira.

Feitas tais ponderações voltemos à direita brasileira.

Ela tem o hábito de se sentir atraída por personalidades políticas de discurso mistificador e populista ou retrógrado ou, ainda, por personalidade de reputação questionável. De Jânio Quadros a Jair Bolsonaro, passando por Fernando Collor de Mello, para ficar nos que chegaram à Presidência da República.

De uns tempos para cá, caiu de amores por Roberto Jefferson, advogado e ex-deputado federal, que já esteve aninhado no ninho collorido, como um dos líderes da tropa de choque do então presidente Fernando Collor, quando este enfrentava a artilharia da CPI que pavimentou o caminho para o impeachment, em 1992. Depois, foi diletante apoiador dos governos FHC e Lula, até que, em 2005, por divergências na partilha do butim, denunciou a corrupção nas entranhas do governo petista, ganhando, com o tempo, para uma parcela do eleitorado brasileiro, o status de homem público que pretende passar o Brasil a limpo.

Roberto Jefferson, ressalto, foi ponta-de-lança de um esquema de corrupção nos Correios e em outros espaços do governo federal. É comprovadamente um escroque, condenado pela justiça federal (http://g1.globo.com/politica/noticia/2012/11/roberto-jefferson-e-condenado-a-7-anos-e-14-dias-em-acao-do-mensalao-3.html). E, ainda assim, segue faceiro como um luminar da direita brasileira, já tendo sido recebido com rapapés em eventos patrocinados e organizados por empresários e políticos.

Sérgio Buarque de Hollanda dizia que no Brasil não tínhamos conservadores, mas atrasados e reacionários. A direita brazuca poderá deixar de ser atrasada. Assim o será quando perceber que para ser dignamente o que deveria ser basta estar assentada em valores conservadores, lendo e atuando dentro dos princípios propostos por luminares da área, apresentando-se com decência e escolhendo dignamente as lideranças que vão representá-la.

A direita brasileira parece se contentou em apontar para a esquerda, mais de doze anos no poder e dizer “Olha, ela é igual a nós”. No terreno da moralidade pública, não deve apenas se contentar cinicamente em constatar que a esquerda, quando esteve no poder, roubou tanto ou mais que ela, reproduzindo a cena final de George Orwell, n’A revolução dos bichos.

É muito pouco para quem diz querer tirar o país do atoleiro moral no qual está atolado.