Centrão assume defesa de Bolsonaro e diz não haver clima para impeachment

24 de Abril 2020 - 15h02
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Destoando até de apoiadores de Jair Bolsonaro que nesta sexta-feira (24) manifestaram críticas, o centrão assumiu a linha de frente da defesa do presidente da República e diz não haver, por ora, clima para impeachment.

Líderes do agrupamento de siglas como PP, PL, Republicanos, PTB, Solidariedade e PSD —esse último nega fazer parte oficialmente—, passaram as últimas semanas em encontros com Bolsonaro, que negocia a expansão da distribuição de cargos e emendas a essas legendas com o objetivo de criar uma base mínima que evite, exatamente, o desenrolar de um processo de impeachment.

Em linhas gerais, a maioria afirma ainda que a crise aberta agora reforça a necessidade de uma aliança em torno do presidente.

"O momento maior é de combate à pandemia, não podemos fazer com que a demissão de um ministro possa parar o país. Essa é a orientação do PL, que sempre preservou as condições de governabilidade", diz o líder da bancada na Câmara, Wellington Roberto (PB).

Para o deputado, que integra a legenda comandada por Valdemar Costa Neto, é preciso haver harmonia nesse momento. "O processo de impeachment é um processo complicado, para casos de uma gravidade muito grande, não vejo o país em condições de fazer um processo dentro do parlamento".

Embora não assuma abertamente, o PL negocia com Bolsonaro, entre outros, o comando do Banco do Nordeste.

A mesma linha de moderação é defendida pelo deputado Paulo Pereira da Silva, presidente do Solidariedade.

"Nossa função neste momento é garantir governabilidade para ele tocar o país. Temos 400 mortes por dia e uma crise econômica sem precedentes. Se alguém imagina que tem que tirar o presidente, não conte comigo", afirma.

Políticos desse bloco, vários deles alvo de casos da Lava Jato em tramitação no Supremo Tribunal Federal, são conhecidos críticos da atuação de Sergio Moro como juiz da Lava Jato e mantiveram uma atuação contrária a seus interesses depois que ele assumiu o Ministério da Justiça.

No início do governo Bolsonaro, o centrão participou de articulações para retirar das mãos de Moro o comando do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e para esvaziar o projeto com medidas de endurecimento de leis penais conhecido como pacote anticrime, proposto pelo ministro.

Agora, alguns desses políticos questionam nos bastidores as declarações feitas por Moro ao anunciar sua saída do governo —indício de que o bloco está disposto a rebater o ex-juiz para dar respaldo político a Bolsonaro.

Eles apontam que a acusação de Moro de que o presidente queria acesso a investigações da Polícia Federal precisa ser provada. Acrescentam que, se o ex-ministro sabia desses fatos, ele teria sido cúmplice do crime que denunciou.

Um processo de impeachment só tramita com autorização do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que, embora hoje rompido com Bolsonaro, não tem demonstrado disposição, dizem integrantes do centrão, de deflagrar o processo.

Caso haja essa autorização, é preciso o voto de pelo menos 342 dos 513 deputados para que o Senado seja autorizado a processar o presidente, momento em que ele seria afastado do cargo.

Folha de S. Paulo