Doses de vacina são descartadas em hospitais dos EUA por falta de ‘público-alvo’

11 de Janeiro 2021 - 15h50
Créditos:

Mais de 22 milhões de doses da vacina foram distribuídas a hospitais e farmácias nos Estados Unidos, porém somente cerca de 6,7 milhões de pessoas receberam sua primeira dose, segundo dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDCs) dos EUA.

A oferta e a demanda nem sempre estão alinhadas. Alguns dos grupos de maior prioridade não querem a vacina, ou ao menos não no momento.

Para acelerar o processo, o governo federal tem solicitado aos estados que ofertem a vacina para pessoas mais velhas ou em grupos de alto risco, porém algumas áreas ainda se concentram nos primeiros grupos prioritários – mesmo que faça com que doses retiradas do armazenamento fiquem inutilizadas.

“Todos pensamos que o verdadeiro problema seria a escassez de doses, que teríamos até filas nas calçadas, e o que estamos descobrindo é que, pelo que ouvimos em nível nacional, ainda há muita vacina”, disse Neil Calman, presidente e CEO da Instituto para a Saúde da Família, na sexta-feira (8).

“Cada dose que está no braço de alguém é uma pessoa que não vai ficar doente com Covid-19. Não adianta nada tentar racionar assim, semana após semana, porque qualquer dose aguardando na geladeira é uma vida que não está sendo potencialmente salva”.

O debate ocorre na esfera política no estado de Nova York, onde o governador Andrew Cuomo pressiona hospitais a serem mais ágeis. Enquanto isso, o prefeito da cidade de Nova York, Bill de Blasio, pression para iniciar a imunização em mais grupos prioritários.

No início da semana passada, profissionais Centro de Saúde da Família do Harlem, em Nova York, circularam pelo bairro para encontrar pessoas que pudessem ser vacinadas contra a covid-19.

O centro de saúde tinha doses extras do imunizante da Moderna que estavam fora da refrigeração. As doses deveriam ser aplicadas em profissionais de saúde, porém alguns não compareceram.

“A vacina expira seis horas depois de você tirar a primeira dose do frasco”, disse Calman.

Os enfermeiros não podiam aplicar a vacina a qualquer pessoa; no estado de Nova York, eles até podem ser penalizados por isso. Com odecreto estadual, os prestadores de serviços de saúde que administrarem conscientemente a vacina em pessoas que não pertençam a grupos prioritários do estado podem ter que pagar multas de até US$ 1 milhão e ter suas licenças estaduais retiradas.

Naquela noite, enfermeiros “foram à comunidade e a duas farmácias abertas e perguntaram se algum dos farmacêuticos que estavam lá queria a vacina”, contou Calman. “Daí foram até uma estação do corpo de bombeiros, que fica na mesma rua, para ver se alguém do corpo de bombeiros precisava de vacina... Depois foram até uma casa de repouso”.

No fim da noite, ainda havia “três a quatro” doses, que tiveram que ser descartadas, contou Calman.

“Devemos manter os níveis de prioridade: acho muito importante ter profissionais de saúde primeiro e poder trazer professores agora e outros”, relatou. “Mas, durante esse tempo, a comunidade de profissionais de saúde deve ser capaz de vacinar nossos pacientes de maior risco e usar o julgamento profissional em termos de quem são essas pessoas e para quem podemos obter a vacina”.

No resto do país, o  sistema de saúde Legacy Health, confirmou no mês passado, 27 doses da vacina da Pfizer/BioNTech contra covid-19 foram descartadas porque expiraram antes que pudessem ser aplicadas e também porque haviam informações iniciais sobre a vacina que não estavam claras.

Com relatos de vacinas que não são utilizadas surgindo em todo o país, a Associação Americana de Hospitais (AHA) disse em comunicado que espera que “essas questões sejam resolvidas”.

“Os hospitais e sistemas de saúde dos Estados Unidos estão trabalhando duro para administrar as vacinas contra a Covid-19 da maneira mais rápida e segura possível, conforme prescrito no microplano de seu estado ou jurisdição local”, afirmou o presidente e CEO da AHA, Rick Pollack, em comunicado, na última sexta (8).

“Ao mesmo tempo, continuamos a cuidar de uma grande quantidade de pacientes de Covid-19 em circunstâncias muito estressantes envolvendo falta de EPI, falta de trabalhadores e capacidade limitada de leitos na UTI em certas áreas. A vacinação em massa é um processo enorme e complexo – como qualquer outro esforço deste tipo – e sempre há obstáculos no caminho em qualquer grande empreendimento governamental, especialmente no início”, seguiu Pollack. “Esperamos que essas questões sejam resolvidas e que o ritmo das vacinações aumente dramaticamente nas próximas semanas”.

A vacinação para residentes e funcionários de instituições de longa permanência também está ocorrendo devagar em diversos lugares. Na sexta-feira (8) de manhã, mais de 4 milhões de doses foram distribuídas para uso nessas casas de acolhimento, porém enos de 700 mil indivíduos elegíveis receberam a primeira dose.

O governo federal fechou parceria com as redes de farmácias CVS e a Walgreens que a vacinação nas casas de repouso fosse facilitada.

Em um comunicado, a CVS disse, na semana passada, que o número de residentes que precisam de vacinação foi cerca de 20 a 30% inferior às projeções iniciais e que “a captação inicial entre os funcionários é baixa”.

A Walgreens, por sua vez, disse que as doses não utilizadas são enviadas para a próxima clínica programada em uma instituição de cuidados de longo prazo, e as que possam expirar antes disso “podem ser usadas para vacinar membros da equipe Walgreens que são elegíveis para receber vacinas como parte do plano da Fase 1a delineado pelo CDC e pelos estados”.

O estado de West Virginia sido líder nos Estados Unidos em doses de vacinas administradas per capita, e as instituições de longa permanência podem ser parte do motivo. West Virginia foi o único estado que decidiu não participar do programa federal de distribuição da vacina para funcionários e residentes de instituições – ele iniciou a vacinação das pessoas nessas instalações aproximadamente uma semana antes do começo do programa federal nos demais estados.

“Fizemos parceria com todas as farmácias de West Virginia", declarou o governador Jim Justice. “Achamos que, de uma perspectiva estadual, seguir o programa federal iria limitar nossa capacidade de distribuir e administrar rapidamente a vacina para a população necessitada”.

O estado também começou a ampliar a vacinação prioritária para pessoas com 80 anos ou mais.

Fonte: CNN