É possível ser saudável comendo dois Big Macs por dia, como faz americano?

14 de Agosto 2021 - 14h32
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Você é o tipo de pessoa que costuma comer fast food uma vez por semana, mas sempre se arrepende depois, pensando nos prejuízos que pode trazer para a saúde?

Então, leia essa: o americano Donald Gorske, também conhecido como "o rei dos Big Macs", já comeu 32.340 em quase 50 anos, marca certificada pelo Livro dos Recordes. Por dia, ele come dois lanches nas suas principais refeições, ou seja, 14 hambúrgueres por semana.

Apesar da quantidade, Gorske diz que está com um ótimo nível de açúcar no sangue e um colesterol excepcionalmente bom. Ele alega que para manter a "saúde" caminha cerca de dez quilômetros por dia, e foge das batatas-fritas. Mas será mesmo que dá para ser saudável nesses termos ou ele está escondendo algo?

Para começar, Andressa Heimbecher Soares, médica endocrinologista, membro da SBEM-SP (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia), questiona: "Ele dosou o LDL (colesterol ruim) ou o colesterol total? Não sei. Atendo muitos pacientes de fora do Brasil e, muitos deles, não costumam fazer avaliações detalhadas."

Essa história nos lembra do também americano Dan Janssen, que é monotemático no menu diário de suas refeições: pizza. Ele come a redonda há mais de 25 anos e não gosta nem dos sabores que tenham qualquer vegetal, a preferida é a clássica de queijo mesmo.

Qual o problema de comer tanto?

Veja bem: se você comesse dois sanduíches, como no caso do Big Mac, que tem 563 calorias, estaria ingerindo 1.126 calorias por dia. Considerando que a média geral diária que deveria ser ingerida é de 2.000 calorias, restariam apenas 874 para outros alimentos ao longo do dia.

Contudo, na hora de obter o valor energético total é importante individualizar a necessidade de acordo com peso, altura, idade, gênero, exercício físico, entre outros fatores.

Liane Gonçalves Borges, médica nutróloga pela USP-RP (Universidade de São Paulo - Ribeirão Preto), especialista pela Abran (Associação Brasileira de Nutrologia) e professora do curso de pós-graduação em nutrologia da USP, avalia que, sem dúvida, a retirada da batata-frita e a associação com exercício físico —caminhada de 10 km por dia—, pode contribuir para manutenção de peso e resultados de exames laboratoriais.

"Entretanto, vale ressaltar que alimentos fast food são ricos em sódio, açúcares, gordura saturada, trans e aditivos químicos que tornam o produto mais palatável, saboroso e com baixa qualidade nutricional. Portanto, além de avaliar apenas níveis glicêmicos e de colesterol, muitas vezes, parte de vitaminas e minerais estão reduzidas", pondera. Não temos acesso a todos os indicadores de saúde do americano comedor de Big Mac, é importante ressaltar.

A especialista explica que o fato de apenas exames básicos estarem normais não significa que a pessoa esteja saudável por completo.

"Pode ocorrer depósito de gordura no fígado (esteatose hepática), presença de placa aterosclerótica nos vasos, que aumentam risco de aparecimento de doenças cardiovasculares e complicações relacionadas. E esses diagnósticos, por exemplo, são obtidos através de exames de imagem e não de sangue", alerta.

A endocrinologista, por sua vez, acrescenta que quando consumimos, por exemplo, 1.000 calorias de alimentos saudáveis, o pâncreas não é forçado a trabalhar mais e, consequentemente não gera um padrão inflamatório no organismo.

"Os parâmetros dosados mais comumente podem até vir bons, mas e exames que são pouco pedidos, que avaliam o risco cardíaco antes do colesterol, como a lipoproteína A; apolipoproteínas A-1 (Apo A-1) e B-100 (Apo B-100); homocisteína; proteína C reativa (PCR) de alta sensibilidade?", exemplifica Soares.

Em outras palavras: não dá para dizer que uma pessoa que consome dois hambúrgueres por dia seja saudável, ainda mais depois de tanto tempo.

"O ideal é buscar equilibrar a alimentação, consumir maior quantidade de alimentos in natura, minimamente processados como frutas e vegetais e, claro, ter os momentos de pizza, hambúrgueres, mas com moderação", diz Borges.

Exercício frequente não resolve o problema?

De acordo com OMS (Organização Mundial da Saúde), a quantidade recomendada é de 150 a 300 minutos de atividade aeróbica moderada a vigorosa por semana para todos os adultos, incluindo quem vive com doenças crônicas ou incapacidade.

A entidade destaca ainda que a frequência também é importante: é melhor fazer 30 minutos cinco vezes na semana, do que apenas um dia por 150 minutos. E os benefícios são diversos.

Isso significa que se uma pessoa caminha 10 km por dia, totalizando 70 km por semana, ela realiza uma quantidade de exercício que promove benefícios para sua saúde, sim.

Mas, quando os hábitos alimentares não andam lado a lado, o máximo que se obtém é o retardo ou o controle do surgimento de doenças. O desfecho, contudo, é inevitável, cedo ou tarde. Há exceções, sim, mas vale a pena testar?

Fonte: VivaBem

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