
Vez por outra algum alucinadinho chama de estadista um ou outro desses políticos que se engalfinham na rinha política em que se transformou o espaço público brasileiro.
Uma das referências mais populares sobre o assunto é que a diferença entre o estadista e o político comum é que o primeiro planta visando às futuras gerações e o outro só pensa na próxima eleição. Qualquer semelhança com o que vemos no Brasil atual não é mera coincidência.
Se olharmos para o passado com lupa veremos que havia um modo diferente de se fazer política e de ser um homem de Estado, um estadista. Isso se perdeu. A realidade é outra; ela minou autoridades políticas e abriu caminho para medíocres. Saíram de cena pessoas com profundo conhecimento técnico, profissionais na e da política, com alta respeitabilidade, e ganharam corpo, junto à população, os outsiders, que assumiram o papel de líderes.
Um estadista é alguém inteligente o suficiente para compreender os problemas que tem pela frente; para enfrentá-los, ele sabe que precisa de espírito de renúncia e de muita dedicação a uma causa coletiva acima de seus prosaicos interesses.
Os estadistas não são infalíveis. Cometem erros, alguns grosseiros. O edifício que constroem, porém, fala por si mesmo e que demarcam avanços civilizacionais.
Em Cartas a um Jovem Político, Fernando Henrique Cardoso, ele mesmo construtor de obra significativa (pôs o país nos trilhos, como ministro da fazendo e depois como presidente da república, depois de quase duas décadas de inflação galopante) destacou dois nomes, Winston Churchill e Franklin Delano Roosevelt, como merecedores do termo. O inglês, por sinal, ressalto, está entre os cinco maiores estadistas de todos os tempos, apesar de seu histórico de erros como homem público.
Líder e estadista é aquele que cresce nos momentos mais dramáticos. Nos momentos de crise dão o ar da graça, tomam posição, assumem o leme e comandam. Se não estão, assumem função de conselheiros. Líder calado ou omisso em momento crise demonstra o quão pequeno é.
O momento histórico por que passa o Brasil e o mundo exige a emergência de lideranças que estejam acima da indigência intelectual e moral da política miúda e dos jogos de poder pessoal. E parece não haver; a mediocridade e a pobreza intelectual e de espírito dominam a maioria de nossas lideranças num dos momentos mais difíceis pelo qual passa o Brasil. Cabe à perfeição uma frase atribuída a Antônio Ermírio de Moraes: “Há uma clara diferença entre o político e o estadista. O estadista pertence à nação; o político pensa que a nação pertence a ele”.
Em meio ao deserto de homens e ideias, estamos desfalcados de estadistas.