
Semana passada, o plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) julgou o ex-juiz Sérgio Moro suspeito.
Tenho opinião formada sobre a suspeição de Moro, mas não vem ao caso aqui. O que ora escrevo tem outro objetivo.
A frase do ministro do STF dita ao ministro Luís Barroso, na sessão do plenário do STF, que julgou a suspeição do ex-juiz paranaense, demonstra claramente que a justiça trabalha atuando politicamente.
Alguns anos atrás, Gilmar e Barroso estranharam-se no plenário e atacaram-se. Na oportunidade, Barroso disse que o colega era “uma mistura do mal com o atraso”. A repercussão foi grande e Gilmar, raposa da política, esperou pacientemente para dar o troco a Barroso.
Aproveitou o caso de um outro desafeto, Sérgio Moro, para emparedar Barroso, quase toda a corte constitucional e, de quebra, grande parcela da sociedade brasileira, que vislumbrou no Quixote do Paraná a possibilidade de, para utilizar jargão de conhecido jornalista, passar o Brasil a limpo.
Gilmar, não satisfeito em lavar roupa suja com Barroso, no plenário anos atrás, deu o troco semana passada. Encerrou a discussão no Supremo dizendo “Vossa Excelência perdeu”, numa espécie de xeque-mate, ao que parece.
Não restam dúvidas que Gilmar é o membro politicamente mais articulado do STF. Conhece muito bem a lei, o sistema processual, e tem domínio abrangente das estratégias judiciais. Exatamente por isso, aguardou o momento propício, após a movimentação das peças feita por Édson Fachin, para pôr em votação a suspeição de Sérgio Moro.
Quando começou a votação da suspeição, em 2019, Fachin e Carmen Lucia eram favoráveis a Moro. Gilmar ficou então olhando enfastiado para o tabuleiro e movimentou suas peças agora, quando a Vaza-Jato e a Operação Spoofing tinham acumulado elementos sérios contra o ex-juiz – elementos que, obtidos ilegalmente por meio de hacker, não poderiam levar Moro à prisão, mas que mesmo não servindo para condenar, serviram para absolver. Não condenam Moro; absolvem Lula.
Jurisprudência assentada (?!), toda a prova coletada ilegalmente servirá em favor de qualquer um.
A ação de Gilmar mostra que, mesmo no Judiciário, faz-se política, ainda que não seja política partidária (?!). Uma articulação montada para presumidamente pôr limites a juízes e procuradores que passaram dos limites é uma forma de cravar uma posição política.
Teatro e jogo. Como na política.