Greta Thunberg pouco tem a dizer

06 de Outubro 2019 - 10h01
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Passado o vendaval sobre o que representa Greta Thunberg nas discussões sobre o ambiente, resolvi escrever um pouco sobre ela.

A adolescente sueca virou uma celebridade ativista do clima, que, nas Nações Unidas, foi ouvida e repercutida como autoridade sobre o assunto.

E isso com apenas 16 anos de idade.

Greta criticou com veemência as autoridades ali presentes, dizendo-lhes que elas “vêm a nós, jovens, em busca de esperança. Como vocês ousam! Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias.”

Greta deve ser uma jovem inteligente e sinceramente preocupada com as questões climáticas, mas tudo que vem girando em torno dela nos últimos dias é apenas marketing.

Todo o marketing de Greta começou com a viagem, feita de veleiro, da Europa aos Estados Unidos.

Praticamente toda mídia fez propaganda do deslocamento, mostrando-o como sustentável.

O veleiro que levou Greta até os Estados Unidos exigiu, conforme noticiou o jornal berlinense TAZ, algumas pessoas irem de avião aos Estados Unidos para levar o veleiro de volta para a Europa.

A travessia do Atlântico feita com pompa sustentável parece não ter sido sustentável, mas apenas uma jogada de marketing.

A mídia internacional ainda foi atrás de informações sobre a tal sustentabilidade da viagem; a brasileira, de um modo geral, contentou-se em dar vazão ao sensacionalismo ambiental. (https://epocanegocios.globo.com/Mundo/noticia/2019/08/ativista-greta-thunberg-comeca-viagem-de-barco-para-participar-de-evento-da-onu.html). (https://www1.folha.uol.com.br/ambiente/2019/08/ativista-greta-thunberg-inicia-viagem-em-veleiro-para-participar-de-conferencia.shtml). (https://www.uol.com.br/universa/noticias/deutsche-welle/2019/08/15/opiniao-a-corajosa-viagem-de-greta-thunberg-pelo-atlantico.htm).

A tal compensação de carbono parece que é só barulho. (https://www.msn.com/pt-br/noticias/mundo/emiss%C3%B5es-de-carbono-da-viagem-de-greta-thunberg-viram-pol%C3%AAmica/ar-AAFYQDE). (https://www.uol.com.br/tilt/ultimas-noticias/afp/2019/08/18/emissoes-de-carbono-da-viagem-de-greta-thunberg-viram-polemica.htm), pois a viagem da jovem ativista do clima foi “mais poluente do que se ela tivesse pegado o avião”.

Na ONU, Greta alardeou: “Eu deveria estar de volta à escola do outro lado do oceano”.

Seria fácil fazer isso, se ela não optasse, por questões meramente publicitárias, faltar a duas semanas de aulas para cruzar o Atlântico a bordo de um veleiro e mostrar ao mundo que evita viagens de avião.

Se estivéssemos num tabuleiro de xadrez, Greta e a meninada que “lideraram” uma greve global há alguns dias fazem o papel de peões.

Mesmo os líderes da gritaria, as torres e cavalos do tabuleiro, decidem quase nada sobre o clima.

O assunto está nas mãos de gente grande: Donald Trump, Vladimir Putin, Angela Merkel, Li Kegiang, entre outros.

Esse pessoal – principalmente os lideres norte-americano, russo e chinês – não é do tipo que ouve os murmúrios de Greta e companhia.

É fato que as crianças são peões de envergadura.

Sempre foram, como registra a história.

No início do século XIII, como as Cruzadas não conseguiam o intento de expulsar os infiéis da Terra Santa, um jovem chamado Estevão, levou, segundo cronistas medievais, uma carta ao rei Felipe Augusto.

Estevão dizia ter recebido a visita de Jesus Cristo, e este lhe deu a missão de organizar uma expedição somente com crianças, que, por serem puras de coração, expulsariam os muçulmanos da Terra Santa.

São muitas as versões, com historiadores apontando que a Cruzada das Crianças teve a participação de adultos, notadamente camponeses e mendigos, muitos deles doentes. Há os que dizem que as crianças seriam jovens homens e não exatamente crianças.

Os conselheiros do rei o orientaram a mandar Estevão de volta para casa.

A versão mais popular diz que o jovem Estevão se junta a religiosos e peregrinos que voltavam do Oriente pregando a realização de uma nova cruzada.

Milagres se sucedem e são atribuídos a ele, renovando ainda mais o fervor religioso, que se estende por outras regiões do continente europeu, com milhares de crianças aderindo à causa.

Sem conseguir abrir o Mediterrâneo para facilitar a passagem dos cruzados, Estevão e seus seguidores fazem a travessia a bordo de navios de mercadores.

No Oriente a Cruzada foi destroçada pelos muçulmanos e os poucos sobreviventes são feitos prisioneiros e vendidos como escravos.

Não há dúvida de que as crianças são peões poderosos na história.

A cruzada climática de Greta, a Estevão de saias (ou teria sido Estevão a Greta de calças), demonstra isso.

A adolescente ativista apresenta-se com, digamos, desenvoltura no palco.

Quem ousa criticá-la é logo acusado de insensibilidade.

Já ouvi gente dizendo “Como é possível atacar uma adolescente?”, “Será que um ser tão angelical é movido por interesses outros que não o bem?”, e por aí vai.

Um filósofo britânico do século XIX dizia que as crianças devem ser educadas para se tornarem adultos esclarecidos e intelectualmente maduros.

Quando crianças temos pouco a dizer que valha a pena.

Tirando os geniais, um jovem pode dizer as mesmas coisas que um adulto, mas com menos maturidade e, portanto, menos nuances.

O que Greta e a turma dela dizem é o que ouvimos diariamente de muita gente que se arvora a resolver questões complexas com soluções simplistas.

Estevão e Greta jogariam no mesmo time.

Alguns adultos adolescidos também.