
Marina Silva é direta: não vê a “mínima tendência de melhora” na política ambiental brasileira em 2020. Depois de recolher-se nos primeiros meses do mandato de Bolsonaro, voltou à esfera pública em maio, quando, aliada a outros ex-ministros de Meio Ambiente, divulgou uma carta denunciando o desmantelamento de políticas públicas da pasta. Em seguida, o grupo enviou um documento ao Congresso, reivindicando o fim de projetos que incentivassem o desmatamento na Amazônia. E, em dezembro, a líder da Rede Sustentabilidade participou de protestos contra o governo na Conferência do Clima (COP-25), em Madri.
Em entrevista ao GLOBO, Marina afirma que o desempenho da delegação brasileira na conferência, chefiada pelo ministro Ricardo Salles, foi “horroroso”. Também avalia que o governo Bolsonaro ignora o aquecimento global por conveniência política, e que a mudança de rumo na área ambiental pode dificultar a ratificação do acordo comercial do Mercosul com a União Europeia.
A senhora acredita ser possível manter uma coexistência entre o ambientalismo e o agronegócio?
Sim, ambos podem ser integrados e altamente rentáveis. Entre 2004 e 2012, o desmatamento caiu 83%, e a receita anual do agronegócio aumentou, em média, 2%. E havia também uma agenda definida para a gestão de recursos sólidos e outra sobre a perda de biodiversidade.
Como é atualmente a interação entre ambos setores?
Infelizmente não é harmônica. Sempre houve uma fração do agronegócio que reage às políticas ambientais. Quando fui ministra do Meio Ambiente (2003-2008), representantes do agronegócio contestaram o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), da mesma forma como ocorreu em 2019, no caso dos dados sobre as queimadas na Amazônia. A diferença é que eu defendi o Inpe, enquanto Bolsonaro o entregou às feras. A agressão a órgãos que trabalham com o meio ambiente culmina em tragédias como o óleo nas praias do Nordeste e o rompimento da barragem em Brumadinho (MG).
O Globo