Invasores de terra indígena no Pará cercam base do Ibama e ameaçam fiscais

19 de Novembro 2020 - 13h31
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Um grupo de invasores da Terra Indígena Apyterewa, no estado Pará, cercou uma base de fiscalização usada por funcionários da Força Nacional, Funai e Ibama. Eles hostilizaram a equipe de fiscalização e tocaram foco em uma ponte de acesso à terra.

Os homens fizeram também uma barricada com madeira e pneus e madeira em frente à base e ameaçam fazer um incêndio para impedir a continuidade do trabalho dos fiscais.

Segundo o UOL, servidores não conseguem mais entrar e sair da base nem podem receber mantimentos e combustíveis, situação que ultrapassou uma "obstrução da fiscalização" e passou para "cárcere privado", de acordo com funcionários que não quiseram ter os nomes divulgados.

A equipe foi à região para conter desmatamentos na terra indígena. Na Terra Indígena vizinha, Trincheira-Bacajá, os fiscais conseguiram realizar o trabalho. Porém, na terça-feira (17), eles começaram a receber ameaças de invasão à base e incêndio aos carros da fiscalização.

Os fiscais sofreram uma "emboscada" ao tentar atravessar uma ponte. Tiros foram disparados para o alto e a ponte foi incendiada, além de ter um dos pilares serrado. A equipe teve que voltar à base.

O cerco acontece em frente à base São Francisco, que compõe o plano de proteção territorial da Norte Energia como parte das condicionantes para a obra da usina hidrelétrica de Belo Monte e está cedida ao Ibama.

"Vocês tá trabalhando pro Lula ainda, é? O Lula já foi, rapaz", perguntou um morador a servidores do Ibama. Armado, um policial e aproxima e pede aos manifestantes que se afastem, porém não é atendido. "Não vamos recuar, não. Eu sou trabalhador", disse um deles. 

Segundo a coluna de Rubens Valente, um reforço urgente da Força Nacional foi solicitado a Brasília. Diante do clima de tensão, os servidores temem pela sua segurança física.

A Terra Indígena Apyterewa, em São Félix do Xingu, no Pará, reconhecida como território dos índios parakanãs desde 1982, está ilegalmente ocupada por mais de 1,5 mil não indígenas, conforme estimativa de indigenistas e indígenas. A retirada desses invasores era uma condicionante judicial para a obtenção, por parte da União, da licença ambiental para que seja construída a usina de Belo Monte.

A usina foi inaugurada em 2016, mas nunca foi cumprida a total retirada dos invasores. Segundo os indígenas, a ocupação ilegal foi agravada desde janeiro de 2019 porque os invasores viram no governo de Bolsonaro uma chance de tentar rever a demarcação do território, que tem 770 mil hectares.

Fonte: Coluna de Rubens Valente/UOL