Moro e o jornalismo brasileiro

26 de Janeiro 2020 - 17h27
Créditos:

Segunda última (26), o Ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, esteve no Programa Roda Viva, da TV Cultura.

Roda Viva, que já foi o melhor programa de entrevistas da televisão brasileira, tem mostrado sinais de desgaste, não pelo seu formato mas pela forma como a bancada de jornalistas, atualmente comandada por Vera Magalhães tem desperdiçado oportunidades de fazer as perguntas certas e que interessem efetivamente ao público.

Penso que o Presidente Jair Bolsonaro é refém dos ministros Paulo Guedes e Sérgio Moro.

Guedes, apesar de responsável pela política econômica do governo e o seu fiador junto ao capital nacional e internacional, não desperta tanto a atenção do grande público. Além disso, há oferta generosa de ótimos economistas de perfil semelhante no mercado.

O mercado seria abalado com a saída de Guedes, mas se a escolha do Presidente para substituí-lo for de um economista liberal, o assanhamento logo se acalmaria.

A saída de Moro do ministério seria um solavanco considerável, pela aura de herói na qual ele está envolto, porquanto ele simbolizar a luta contra a corrupção dos graúdos da república.

A grande mídia já demitiu Moro mais de dez vezes em um ano (https://diariodopoder.com.br/imprensa-demitiu-moro-mais-de-dez-vezes-em-1-ano/). Em todas foi desmentida. E desmentida e desmoralizada, fica sem saber o que perguntar a ele, como ficou demonstrado no último Roda Viva.

Praticamente um bloco ou um bloco e meio do programa foi desperdiçado com os jornalistas questionando o Ministro sobre a sua suposta submissão ao Presidente. Os jornalistas não pareciam interessados em saber muita coisa sobre o Ministério por ele comandado, mas em constrangê-lo e fazê-lo entrar em confronto com o Presidente, sem sucesso.

Assisto com frequência ao Roda Viva e nunca vi a bancada pressionar tanto um Ministro para que ele confirmasse ou refutasse submissão ao Presidente, nem quando Fernando Henrique foi acusado de comprar a emenda da reeleição ou Lula comandava o mensalão ou Lula e Dilma patrocinavam ditaduras com o dinheiro do Brasil.

A mídia tradicional tem perdido progressivamente credibilidade, em grande medida pela própria postura de construir narrativas sem dar bola para os fatos.