
A analista de política da CNN em Brasília Larissa Rodrigues, 36, foi diagnosticada com um câncer de mama agressivo em agosto deste ano. Ela voltou ao ar no início de dezembro, incentivada por uma missão: dar voz às mulheres que passam pelo mesmo.
"O que me move ao me colocar vulnerável careca é que tem um monte de mulher por aí na mesma situação sem o privilégio e o lugar de fala que eu tenho", disse a jornalista em entrevista a VivaBem.
"Não é fácil, eu não estou aqui porque é fácil. Eu não me revi e não vou me rever [no ar] enquanto o meu cabelo não voltar, porque senão eu vou perder a coragem. Todo dia eu penso 'o que eu estou fazendo?'."
Câncer é agressivo
Larissa sentiu um caroço no seio direito em 5 de agosto. Ansiosa, foi ao mastologista.
O diagnóstico veio em 14 dias. "Pelo jeito que o mastologista conversou comigo, eu falei: 'doutor, preciso me preocupar?'. E ele disse que tinha alguma coisa. A partir daquele momento, eu já sabia que tinha câncer. O que eu não sabia é que seria o pior tipo de todos."
Dois dias depois, em 21 de agosto, Larissa descobriu ter um câncer de mama triplo-negativo, considerado o mais agressivo e responsável por 10% a 15% dos casos da doença.
Esse tipo de câncer "se alimenta" dele mesmo. Por isso, cresce rápido e é instável, criando metástases mais facilmente, explica a mastologista Fernanda Leite, do Centro de Referência de Tumores da Mama do A.C.Camargo Cancer Center (SP).
"Não é infrequente fazer diagnóstico de mulheres que já palparam nódulos na mama", diz a mastologista. A presença desses caroços, caso de Larissa, indica casos mais avançados da doença.
Larissa tem um câncer em estágio dois, em uma escala de gravidade que vai até quatro. A notícia foi um baque. Ela se isolou e, nos primeiros dias, só conseguia falar com a mãe, a irmã e o marido.
O tratamento
Dada a agressividade do câncer, o tratamento é igualmente forte: costuma seguir uma sequência de quimioterapia, cirurgia e radioterapia. É o programado para a jornalista, que começou as químios em 10 de setembro, um mês e cinco dias após notar o caroço em seu seio.
Para começar as sessões, porém, foi preciso uma ordem judicial contra o plano de saúde, contratado havia pouco tempo. "É por isso que estou tentando colocar a minha cara a tapa, porque eu só penso nas mulheres que não têm condição. Para mim já está muito difícil e ainda tive todo o suporte de pagar para fazer exames, judicializar para começar a químio."
Primeiro, vieram as quimioterapias vermelhas. "Começar foi bom, porque é a sensação de que você está fazendo alguma coisa para combater a doença." A jornalista teve fortes efeitos colaterais, como enjoo e vômitos. "Não tinha psicológico para nada."
Foi também quando seu cabelo caiu, uma questão para Larissa. "Eu falava que jamais sairia de casa careca, que não tinha a mínima chance. É um processo", diz ela. Passadas as quatro sessões, feitas a cada duas semanas, Larissa começou as quimioterapias brancas, que considerou mais leves.
'Não sou guerreira'
Larissa faz as sessões às quintas. Conta que se sente muito mal na sexta e no sábado, o desconforto baixa no domingo até sumir quase por completo às segundas. Então, aproveita os primeiros três dias úteis da semana para ir à redação da CNN em Brasília.
"Eu ainda estou muito debilitada, trabalho quando estou bem e as horas que posso."
Sua primeira ida à TV após o diagnóstico foi recente, há um mês. Ela temia ver os colegas na mesma rotina, enquanto a sua foi alterada num súbito. "Foi um momento muito difícil. A sensação que eu tenho é essa: a vida de todo mundo continua e a minha não", afirma.
Na volta ao trabalho, a jornalista apurava informações nos bastidores, sem vontade de aparecer em frente às câmeras por estar careca. "Eu falava que ia ficar todo o tempo da químio presa em casa", lembra.
Ao chegar à redação certo dia, no início do mês, Larissa se sentiu pronta. Quis voltar ao ar. "A janela de me sentir bem é muito curta, quis aproveitar."
Comunicou o chefe, apurou uma história e falou com os colegas que apresentavam o telejornal que não desejava comentar muito sobre o câncer ao vivo, para não chorar. "Ao mesmo tempo, sentia que precisava dar uma explicação por estar careca."
Larissa aparece no vídeo emocionada. Ela conta que, depois, recebeu mensagens de muitas mulheres que também tratam câncer.
"A mensagem que eu gostaria de passar é que a gente precisa dar visibilidade a essas mulheres e falar sobre isso. Inclusive, me preocupa o discurso de guerreira, de enfrentar [o câncer] com facilidade. Não quero ser guerreira. O tratamento não é fácil e tem gente que vende a imagem de que é."
Por Larissa Rodrigues: O governo tentará adiar a votação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) das Praias na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal. O objetivo é evitar que a análise seja feita simultaneamente com a Reforma Tributária. #BastidoresCNN pic.twitter.com/Wl3yCitR0w
— CNN Brasil (@CNNBrasil) December 2, 2024
Com informações de UOL