Oswaldo Brandão justifica a barração de Raul

09 de Março 2020 - 20h50
Créditos:

Para a disputa da Copa América de 1975 - que não era jogada nos moldes atuais, mas ainda com jogos de ida e volta -, a velha Confederação Brasileira de Desportos montou uma seleção formada por jogadores de clubes de Minas Gerais, contando com o goleiro Raul, o lateral Nelinho, o tricampeão mundial Wilson Piazza, o atacante Palhinha e o experiente Dirceu Lopes, mais os reforços de Luis Pereira, zagueiro do Palmeiras; Amaral, zagueiro do Guarani de Campinas; o meia Geraldo, do Flamengo, e o atacante Roberto “Dinamite”, do Vasco. O técnico era Oswaldo Brandão.

Na primeira fase, quatro vitórias da seleção mineira/nacional contra Argentina (2x1 e 1x0, Mineirão e Rosário) e Venezuela (4x0 e 6x0, Caracas e Mineirão).

Na segunda fase, o Brasil enfrentou o Peru, com o primeiro jogo no Mineirão. O dia foi feliz para a seleção de Cubillas, Oblitas e Chumpitaz que venceu o jogo por 3x1. Em contraponto, Raul fez aquela que talvez tenha sido sua partida mais desastrosa com a camisa da seleção, tendo falhado nos três gols peruanos.

Para o jogo em Lima/Peru, Oswaldo Brandão convocou o Waldir Peres, goleiro do São Paulo. Raul sentiu que havia perdido a condição de titular, mas, como bom profissional, se manteve lúcido e acompanhou o grupo sem demonstrar insatisfação.

Na véspera do jogo, após o jantar no próprio hotel onde estava hospedada a seleção, o goleiro Raul estava no quarto quando chegou o massagista Nocaute Jack com o seguinte recado: “Raul, Seu Brandão quer falar com você lá no quarto dele”.

Raul seguiu até lá com a certeza de que levaria uma bronca e a comunicação de que estaria barrado.

Ao chegar, foi recebido com simpatia pelo treinador que fecha a porta e pega uma garrafa de whisky escocês e dois copos. Brandão era, reconhecidamente, um apreciador de um puro malte sem gelo. O goleiro agradeceu a oferta, mas o treinador foi taxativo: “Deixa disso, o chefe aqui sou eu, não tem problema, você é um bom rapaz”.

A bebida foi sendo consumida enquanto a noite passava e a conversa seguia entre os dois sobre vários assuntos, como duas pessoas inteligentes e cultas. O amanhã, que era o dia do jogo, estava aparentemente esquecido.

Após algum tempo, Raul preocupado com o dia seguinte, já pensava que toda aquela cena servia para distraí-lo, fez menção de despedir-se do treinador e seguir ao seu quarto para o descanso. Agradeceu as generosas doses da bebida e o bom papo, apertaram as mãos, trocaram um abraço e dirigiu-se para a porta. Ao abrir maçaneta, ouviu o treinador falar com sua voz de trovão:

“Meu goleiro, você bebeu a noite inteira. Assim não tem condição. Quem joga amanhã é o Waldir”. E deu um breve aceno com a cabeça.

Créditos de Imagens e Informações para criação do texto: “Histórias de um goleiro” (Raul Plassman e Renato Nogueira); https://youtu.be/2E35CvR10Mc.