Polícia investiga caso de atleta de 14 anos que diz ter sido espancado em 'batizado' no judô do Flamengo

13 de Maio 2022 - 03h06
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O esporte olímpico do Flamengo, mais especificamente o judô de alto rendimento, virou caso de polícia. Um atleta de 14 anos diz ter sido espancado dentro do clube no que foi chamado de "batizado" pelos agressores.

No registro de ocorrência e ao laudo do exame de corpo de delito são detectadas lesões por "ação contundente", descrita pela vítima no inquérito como enforcamento com quimono, nariz tampado, tapas e chutes.

O caso foi registrado em 19 de março deste ano na 22ª Delegacia de Polícia, na Penha, e encaminhado para a 15ª DP, na Gávea, bairro onde fica a sede do Flamengo.

A vítima diz que o agressor é o judoca Daniel Nazaré, residente em Nova Iguaçu, de 21 anos. Ele não foi ouvido até o momento no inquérito.

O laudo de exame de corpo de delito do Instituto Médico Legal traz a descrição que também consta no registro, de que "um outro atleta começou a fazer 'brincadeiras' agressivas como tapas no rosto, apertando o nariz, enforcando, no dia 17.03.2022", salientando que a vítima estava nas dependências do clube.

O exame detectou:

"equimose arroxeada medindo cerca de 10mm x 10mm em ponta do nariz à esquerda";
e "escoriação medindo de 10mm x 10mm em região temporal esquerda, com crosta hemática".

O documento conclui que há vestígio de lesão corporal por ação contundente, sem risco à vida.

O registro de ocorrência informa que a vítima pratica judô desde os 3 anos de idade e, desde os 5, treina no Flamengo, sendo graduado com a faixa roxa.

Declarou também que, por estar avançado na arte marcial, treina com frequência com atletas mais velhos e graduados. A vítima declarou que já conhecia Daniel Nazaré (faixa preta) e que já tinha treinado com ele algumas vezes.

A vítima informa que participou do treino previsto para acontecer das 17h às 19h no Flamengo, com participação de diversos atletas de mais idade, sendo ele o único "sub-15" na atividade.

Um trecho do registro detalha a "lesão corporal provocada por socos, tapas e pontapés" e diz que a vítima quase perdeu a consciência:

"Que durante esse treino, Daniel Nazaré o entrelaçou o kimono no seu pescoço o imobilizando. Que pediu para Daniel parar, mas ele não obedeceu. Que enquanto imobilizava o declarante, Daniel deu mocas em sua cabeça e apertou o seu nariz para que não respirasse. Que quase perdeu a consciência. Que, enquanto era imobilizado por Daniel, outros atletas, que não sabe dizer os nomes, o agrediram com socos e tapas. Que Daniel permaneceu agredindo o declarante por cerca de quatro minutos. Que após cessar as agressões, Daniel disse que o que acabara de acontecer era uma espécie de 'batizado', mesmo o declarante treinando há anos no clube. Que ficou com lesões no rosto em razão das agressões. Que, neste ato, manifesta o desejo de representar criminalmente contra o autor do fato."

Após as agressões, de acordo com o laudo do exame de corpo de delito, a vítima chegou a ser atendida no Hospital Getúlio Vargas. Foi feita uma tomografia computadorizada, que não mostrou alteração. O documento é assinado por Ana Carolina Braz de Lima.

O pai do atleta, que disse que não poderia dar declarações. Ele forneceu o telefone do advogado, Jorge Júnior, que disse:

"Por enquanto, a situação está em sede policial. Na próxima semana, vamos com o pai do [vítima] na delegacia para analisar como está o inquérito. Ainda não temos nenhuma novidade sobre como a delegacia estará procedendo. Ele sofreu uma agressão, tem corpo de delito, e vamos aguardar para tomar as devidas providências. Estamos aguardando a conclusão do inquérito policial."

Também foi tentado contato com Daniel Nazaré por ligação e mensagem, mas não houve retorno até a publicação desta reportagem. O Flamengo informou através de sua assessoria que o caso foi resolvido internamente e "os dois atletas treinam juntos normalmente".

O advogado da família da vítima rebateu e negou a versão do clube.

"Não teve nada acertado internamente. Chamaram os responsáveis da vítima para conversar. O técnico e os supostos atletas até onde sei estão normalmente em atividades no clube. Soube pelo responsável da vítima que um dos supostos atletas envolvidos é maior de idade está disputando torneios pelo clube. Sinceramente não sei o que eles disseram como “resolvido internamente”. Existe um registro de ocorrência efetuado pelos responsáveis e será sobre isso que iremos na próxima semana (à delegacia). Quanto a treinar no clube o [vítima] ficou com muito medo de retornar. Os pais que conseguiram convencer que o mesmo não abandonasse o esporte. Mas ele não quer nenhuma ligação com os envolvidos."

Com informações do G1