
O Partido dos Trabalhadores (PT) realiza neste domingo (6) eleições internas que expõem um racha sobre os rumos do governo Lula. Enquanto uma ala defende o rompimento com o Centrão e um giro à esquerda, o grupo majoritário aposta na reconstrução de alianças com o centro e a centro-direita para garantir viabilidade eleitoral em 2026.
Tudo indica que o ex-ministro Edinho Silva, apoiado por Lula, vencerá no primeiro turno a disputa pela presidência do partido. No entanto, o processo, que envolve quase 3 milhões de filiados, ocorre em meio a uma crise de popularidade do governo, queda nas pesquisas e dificuldades na relação com o Congresso, intensificadas pela recente derrubada de um decreto presidencial sobre o IOF.
Edinho, da tendência majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB), é o único entre os principais candidatos que evita críticas diretas ao governo. Segundo ele, o sistema político atual está esgotado, com “hiperempoderamento do Judiciário”, enfraquecimento do Executivo e domínio do Congresso sobre o Orçamento. “O Brasil precisa de uma concertação política”, disse.
Na outra ponta, adversários internos como o deputado Rui Falcão, Romênio Pereira e Valter Pomar pedem uma guinada à esquerda. Em carta conjunta, eles alertam que setores do governo estariam pressionando por um “ajuste fiscal brutal” que enfraqueceria a base social de Lula e inviabilizaria sua reeleição. Falcão critica a dependência de acordos com a direita: “É caminho para o suicídio político”.
Esses dirigentes querem mais enfrentamento com o Congresso, mudanças na política econômica e a demissão de ministros que, segundo eles, atuam em sintonia com a direita. “Nós ganhamos pela esquerda e começamos a governar pela direita. Ou o governo muda, ou o povo muda de governo”, afirmou Romênio.
O resultado das urnas internas definirá não só o novo presidente do PT até 2029, mas também o tom da atuação do partido no governo e na sucessão de Lula. Embora Edinho defenda que o partido comece a se preparar para a era pós-Lula, Pomar rejeita esse debate: “Quem tem pressa em tirar Lula do cenário são nossos inimigos”.