Ronaldinho rompe silêncio no Paraguai e dá primeira entrevista depois de prisão

27 de Abril 2020 - 08h23
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O ex-jogador Ronaldinho Gaúcho deu sua primeira entrevista depois que foi detido por uso de passaporte falso no Paraguai, publicada nesta segunda-feira pelo jornal local ABC Color. Entre recordações de sua carreira, contou como está vivendo em prisão domiciliar desde 7 de abril no hotel Palmaroga, em Assunção, com o seu irmão Roberto Assis, depois de 32 dias detidos na Agrupación Especializada, quartel da Polícia Nacional do país, transformado em cadeia de segurança máxima. E, claro, sua expectativa para resolver o problema com a Justiça.

- Tenho fé. Esperamos que possam utilizar e confirmar tudo o que declaramos sobre nossa posição no caso e que possamos sair dessa situação o mais breve possível.

- Ela vive dias difíceis desde o início da pandemia de covid-19 na sua casa. Depois será absorver o impacto que essa situação gerou e seguir adiante com fé e força - disse Ronaldinho.

O craque disse que viajou para Assunção por causa de dois eventos em que devia comparecer por contrato: lançamento de um cassino online e do livro Craque da Vida, esse último organizado pela empresa que tem os direitos de exploração da obra no Paraguai.

- Tudo que fazemos é em virtude de contratos geridos pelo meu irmão, que é meu representante.

Ronaldinho afirmou que foi pego de surpresa pelo problema na documentação e está colaborando com a Justiça.

- Ficamos totalmente surpreendidos ao saber que os documentos não eram legais. Desde que isso aconteceu, nossa intenção foi colaborar com a Justiça para esclarecer isso. Até hoje, explicamos tudo e facilitamos tudo o que a Justiça nos solicitou.

- Toda a vida, busquei chegar ao mais alto nível profissional e levar alegria para as pessoas com o meu futebol.

Ronaldinho também explicou que esperava voltar para o Brasil depois da audiência do dia 6 de março, tinha voo marcado na madrugada seguinte para ir ao aniversário de seu filho, e que não sabe o que aconteceu depois. O ídolo também lembrou do tempo que passou no quartel transformado em cadeia, período em que jogou futebol, deu autógrafos aos fãs e foi muito bem recebido pelos colegas de detenção.

- Não tinha motivos para não fazer isso, ainda mais com pessoas que estavam vivendo um momento difícil como eu.

Entenda o caso

Após chegarem no Paraguai no dia 4 de março, Ronaldinho e Assis receberam no hotel a visita de autoridades paraguaias naquela noite. Passaram a madrugada sob custódia e, no dia seguinte, contaram ao Ministério Público tudo o que sabiam. Admitiram que tentaram entrar no país com aqueles documentos, mas que não sabiam serem falsos.

O MP paraguaio enquadrou os irmãos Assis numa figura jurídica chamada "critério de oportunidade", que a grosso modo permite aos réus não serem acusados formalmente pelos crimes que cometeram, desde que consigam reparar o dano causado. Na prática: Ronaldinho e Assis seriam submetidos a uma "pena social" – uma doação para uma ONG, por exemplo – e poderiam deixar o Paraguai.

Após audiência em que seria definida o tamanho dessa "pena social", houve uma reviravolta no caso. O Ministério Público mudou sua posição e pediu a prisão preventiva dos irmãos Assis. Às 22h de sexta-feira, 6 de março, quando estavam num hotel próximo ao aeroporto, os irmãos Assis foram detidos e levados para a Agrupación Especializada.

A defesa de Ronaldinho apresentou três recursos, que foram negados pela Justiça. O argumento para mantê-los presos foi sempre o mesmo: soltá-los poderia prejudicar o andamento das investigações. No dia 7 de abril, após 32 dias, o craque e seu irmão deixaram a prisão e foram transferidos para um hotel de Assunção. A defesa agora tenta anular a prisão preventiva e tirá-los do Paraguai.

Mas o que Ronaldinho foi fazer no Paraguai? A resposta passa obrigatoriamente por Roberto Assis, irmão do craque e seu agente desde sempre. Ele aceitou o convite de Wilmondes Souza Lira para participar de ações sociais no Paraguai. Wilmondes é casado com Paula Lira, que por sua vez é (ou era) amiga da paraguaia Dalia Lopez, que financiou tanto a confecção dos passaportes falsificados quanto a própria viagem de Ronaldinho e Assis no Paraguai.