
Quando apresentei meu projeto de doutorado na Universidade do Minho, em Portugal, sobre o papel do rádio e da televisão em campanhas políticas aqui no Rio Grande do Norte e discuti o tema coronelismo midiático, caro às comunicações no Brasil, minha orientadora, professora Madalena Oliveira, ficou impressionada com dois assuntos que retomei ao longo do trabalho, traçando um paralelo entre eles: coronelismo e populismo.
Após ler o esboço dos dois primeiros capítulos, no segundo semestre de 2014, e trocar informações comigo sobre as eleições presidenciais que se avizinhavam no Brasil e insistir para que eu explicasse o vínculo que o eleitorado brasileiro tem com os seus líderes, ela me falou sobre um assunto, seguidismo, sobre o qual fui ler e que, de alguma forma, terminou sendo incorporado ao meu trabalho.
Em linhas gerais, seguidismo é neologismo para adesão, por mimetismo, a movimentos, organizações ou ideias.
Toda posição de alinhamento acrítico é seguidismo e todo seguidista segue (desculpem a redundância) ou defende incondicionalmente alguma ideia, teoria ou partido, sem questioná-lo e, pior, sem se questionar.
Ora, nós somos seres sociais e, por isso, desejamos um senso de pertencimento comunitário/societário. Pertencer a algo é natural e parece, à primeira vista, saudável. Entretanto, no limite, podemos nos anular como indivíduos, frente a grupos.
Autores como Solomon Asch chegam a sugerir a existência de uma variante do fenômeno seguidista, a saber, a de indivíduos que se anulam ou se calam para evitar conflitos entre as posições que defendem e a rejeição que podem enfrentar de outros indivíduos ou de grupos. É uma atitude conformista, pois o indivíduo conserva as ideias que defende e assume publicamente a opinião da maioria, evitando assim desgastes que considera prejudiciais e sanções que porventura possam vir a ser aplicadas aos que se desviam do pensamento majoritário. Quando isso ocorre, estamos passando por uma descompensação que pode nos levar à conformidade social, típico do comportamento de manada, que se caracteriza por elementos de hostilidade e medo e, portanto, nada tem a ver com o senso comunitário/societário. Ou seja, se o indivíduo está na manada, deve seguir as regras lá definidas, sob pena de, não o fazendo, ser de lá expulso e pagar, de variadas formas, pena pelo delito de discordar.
Pago a pena estipulada pela manada diária e cotidianamente, mas não abro mão de minhas ideias e da capacidade de pensar e criticar. Ainda que as manadas A e B se perpetuem pelo resto dos dias, nunca contarão com minha adesão. Como me disse certa vez um amigo querido e já falecido, “nasci só e só morrerei”.
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A propósito, as “milícias” esquerdistas e direitistas estão se estapeando, no Brasil, para mostrar à sociedade quem tem o monopólio da moral. Pois bem, as “milícias”:
1) Calam e acusam, respectivamente, nos últimos dias, sobre a postura de um ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) que não se declarou suspeito por julgar caso no qual está diretamente envolvido; o ministro que seria considerado delinquente num país minimamente sério contou com o apoio da maioria dos integrantes da suprema corte vilipendiada.
2) Calam e acusam, respectivamente, um general do Exército que desrespeitou seu próprio Regulamento Disciplinar e o Estatuto das Forças Armadas, que proíbem a participação de militares da ativa em manifestações políticas; o general indisciplinado contou, posteriormente, com a anuência de seus superiores, abrindo provavelmente caminho para a indisciplina nos quartéis.
As instituições brasileiras são vis ou procedem de maneira vil porque a sociedade brasileira é vil ou tolera a vileza, seguindo acriticamente a excrescência que a diz representar.