Uma história de futebol, trama, espionagem e morte na Guerra Fria

04 de Outubro 2020 - 06h27
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O ano era o de 1979. Tempos de “Guerra Fria”, como era chamada a divisão entre os lados capitalistas e socialistas do mundo após a Segunda Grande Guerra. A Alemanha era dividida pelo Muro de Berlin, tendo seu lado Ocidental e Oriental. O futebol era praticado nos dois países, com prevalência e mais sucesso mundial para o oeste, vencedor da Copa de 1954 e 1974 e finalista em 1966.

A Alemanha Oriental somente tinha participado da Copa do Mundo de 1974, ao vencer o grupo 4 da eliminatória europeia derrotando Romênia, Finlândia e Albânia e predominava entre os clubes de futebol o modelo de representação de equipes relacionadas com determinada atividade, como a polícia política (Dynamo), indústria ferroviária (Lokomotive), indústria automotiva (Motor), correio e telecomunicações (Post) e outros.

Naquele ano, o Dynamo foi convidado para um jogo amistoso contra o Kaiserslautern, time do lado ocidental. O governo da Alemanha Oriental não gostava deste tipo de troca de culturas, pois, naturalmente, sabia que era tentador aos olhos dos seus jogadores.

A partida foi vencida pelo Kaiserslautern por 4x1 e um jogador chamou a atenção dos ocidentais: Lutz Eigendorf, habilidoso na armação de jogadas, bom finalizador e chamado de o “Beckenbauer do Leste”. Com 22 anos, se sentiu seduzido pela vida e novas possibilidades do outro lado da “Cortina de Ferro”. Na fuga, deixou para trás a esposa Gabrielle e a filha Sandy, esta com dois anos de idade.

A evasão foi tratada como traição e sua família sofreu represálias pelo governo oriental. Sendo Eigendorf considerado inimigo público da Alemanha Oriental, Gabrielle pediu divórcio e casou-se com um membro da polícia secreta (STASI), que passou, secretamente, a vigiar os passos do desertor.   

A FIFA lhe proibiu de atuar por um ano em face da saída intempestiva de um clube para o outro, e o futebol de Eigendorf sucumbiu em meio a tantas pressões pessoais e políticas. Após cumprir a punição, atuou pelo Kaiserlautern de 1980 a 1982, realizando 53 partidas e marcando apenas 07 gols. Foi negociado com o Eintracht Braunschweig, time pelo qual atuou apenas 8 vezes na liga entre 1982/1983.

Na noite de 05.03.1983, Eigendorf colidiu seu carro com uma árvore e ele faleceu quando tinha apenas 26 anos. Sua morte levantou suspeita sobre o acidente, mas até hoje não há provas conclusivas da participação da STASI na morte do promissor meia-atacante.

Em 2015, foi lançado o livro “Jogo livre: futebolistas da Alemanha Oriental em fuga”, de Frank Müller e Jürgen Schwarz, que relatam casos como o de Lutz Eigendorf, Norbert Nachtweih, Matthias Müller, Frank Lippmann, Falko Götz, Dirk Schlegel, Jürgen Sparwasser, Jörg Berger, dentre outros que fugiram ou tentaram viver outra vida longe da Alemanha Oriental.    

Créditos de informações e imagens para criação do texto: https://www.ludopedio.com.br/arquibancada/stasi-no-futebol-da-alemanha-oriental/; https://news.moosh.pt/vintage-moosh/lutz-eigendorf-o-traidor-que-a-stasi-nunca-perdoou/