
Uma das queixas mais comuns dos nossos cineastas é a de que falta incentivo para o cinema nacional.
Há quem argumente que os governos brasileiros pouco ou nada fizeram para a construção de uma política cinematográfica.
Desde o início do anos 1950, quando o presidente Getúlio Vargas criou o Instituto Nacional de Cinema, passando pela Embrafilme, nascida quando o país era governado pela Junta Militar que substituiu Costa e Silva, no final da década de 1960, pelas Leis Sarney e Rouanet, nas décadas de 1980 e 1990, até a famigerada Agência Nacional de Cinema (Ancine), andrajo esculpido durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, o que não faltou foi dinheiro público para financiar produções mambembes.
Mais de meio século de planificação e incentivo oficial para o desenvolvimento de uma indústria cinematográfica brasileira que patina entre o ruim e o regular.
Confrontado com o argumento acima, os nossos homens de cinema alegam que não decolamos porque não temos recursos técnicos para fazermos cinema de qualidade.
Se assim é, como explicar a excelente qualidade de nossa propaganda e publicidade, feita por profissionais qualificados? E as nossas novelas, desde os anos 1970 exportadas para quase todo o mundo?
Sobra, para os espertos cineastas brasileiros, a desculpa da escassez de recursos financeiros.
Esquecem eles de dizer como iranianos, bósnios e argentinos fazem filmes excelentes com parcos recursos. Nem citemos o caso da Nouvelle Vague, do final da década de 1950.
O mal do cinema brasileiro é esforçar-se para ser genuinamente nacional.
Buscar uma identidade nacional pode ser meritório, mas isso não deve ser obsessivo, pois a arte é tanto mais importante quanto mais universal for. Ou seja, a nossa arte (plástica, literária, teatral, cinematográfica, etc) não deve ser medida pelo quantum de brasilidade tiver, mas por sua universalidade.
As obras literárias de Machado de Assis e de Guimarães Rosa conseguiram harmonizar o local e o universal e, por isso, são lidas por muita gente no mundo todo, pois ninguém as lê, exceto por interesse erudito, para conhecer a brasilidade que carregam.
O nosso cinema continua malhando em ferro frio, querendo ser um daguerriótipo do Brasil, um esforço tão desmedidamente sem sentido que acaba por levar o criador ao esgotamento intelectual. A tarefa é tão fútil quanto inútil.
Dar atenção ao roteiro, à direção e a produção é exercício primordial para a construção de um bom cinema nacional.
A brasilidade ficando em plano secundário, surgirá.
Sem exageros e sem artificialismos.