
Assisti Bacurau.
Gostei e não gostei.
Gostei como passatempo, diversão, lazer.
Não gostei daquilo pelo que muitos amigos/as fazem festa: as questões estéticas, as problematizações, a crítica social, em suma, aquilo pelo que o filme quis e quer se vender – e pelo que tem achado gente interessada em comprar.
Não entendo de cinema. Sou, digamos, um néscio que assiste a filmes e deles gosta ou desgosta, sem maiores aprofundamentos.
A recepção que Bacurau tem é um desserviço à necessária reflexão sobre mais uma derrota histórica daqueles que se apresentam como sendo de esquerda no Brasil.
Como tem sido um desserviço a resistência à vacuidade na qual estamos metidos até o pescoço no país.
Bacurau não consegue indicar um caminho alternativo por meio do qual seja possível construir um novo imaginário e/ou um novo ideário.
A violência que escorre na telona é gratuita e desmedida.
Tarantinesca.
A recepção acrítica já é por si mesma um problema considerável. A emoção tolda qualquer tentativa de debate por demais necessário nos dias que seguem.
Sem um debate qualificado, a esquerda fica aprisionada em seus próprios desejos, sonhos e utopias, quase todos embolorados.
A esquerda uma vez mais exalta a arte como sinal de resistência e passa a frequentar eventos e manifestações culturais para sublimar as suas decepções e frustrações.
Já comprei briga com alguns descolados e militantes que adoraram o filme pela crítica social que ele faz.
Descolados e militantes detestam a divergência e logo me identificaram, para variar, como alguém de direita (?!) que não entendeu a força que o filme tem.
A reação exagerada de alguns amigos e conhecidos quando manifestei minha posição acerca do filme indica como muitos estão alucinadamente perdidos e tentam encontrar uma boia na qual possam se agarrar – e resistir.
Não sei exatamente a quê.