
Venho pondo em prática o ditado popular expresso no título deste texto e que, segundo estudiosos, nasceu no século XIII, quando cruzados espanhóis partiam para a Terra Santa: Mejor sería andar solo que mal acompanhado.
Tenho evitado, tanto quanto possível, discutir política em grupos de aplicativos de mensagens e mesmo no restante da esgotosfera, devido à polarização bruta, estúpida e emburrecedora. Prefiro continuar bruto, estúpido e burro sem a contribuição de meus irmãos de infortúnio.
Até fora da esgotosfera tenho evitado o tema. E isso tem me feito um bem danado.
Quando quero dizer algo sobre o assunto, escrevo em meus perfis nas redes sociais ou em espaços aos quais tenho acesso (sites, blogs, etc), sem abrir espaço para polemizações infrutíferas.
Consolidei minha intenção quando passei a ver um monte de gente fanática defendendo os seus “heróis” e atacando os “heróis” dos outros, cegando para os erros de casa e apontando os erros da rua.
Esquerdistas acusam o atual presidente da república de propor medidas para estourar o teto de gastos (defendo que o teto de gastos deve ser respeitado por Bolsonaro e por qualquer pessoa que sente em cadeiras de presidente, de governadores e de prefeitos) e esquecem que, em 2014, Aluízio Mercadante, então ministro-chefe da casa civil, disse que aqueles que pretendem impedir o governo de alterar a lei de diretrizes orçamentárias (LDO) não entende de matemática. Sobre a atuação de Mercadante e sobre as mudanças proposta pelo governo Dilma, vejam, respectivamente, os links (https://www.reuters.com/article/brazil-politica-cmo-novavotacao-atualiza-idBRKCN0J31W020141119) (https://agenciabrasil.ebc.com.br/politica/noticia/2014-12/dilma-pede-aprovacao-de-projeto-que-muda-meta-fiscal).
O governo da presidente Dilma enfrentava então uma tremenda crise fiscal e buscava resolver o problema por um caminho fácil, a exemplo do governo de Bolsonaro. Pareceu-me, à época, que o governo do qual Mercadante fazia parte não entendia matemática, afinal foi o governo que não coube no orçamento e, como não coube, quis, malandramente, mudar as regras do jogo, lançando, de quebra, o Brasil no limbo econômico, de onde teria dificuldades de sair.
Os governantes brasileiros são useiros e vezeiros na arte de gastar o que não têm e transferirem o débito para os sucessores. Não administram, esbanjam. De todos os que sentaram na cadeira presidencial, somente um, Fernando Henrique Cardoso, teve a grandeza política de tentar pôr o país nos trilhos. Para ser justo, Michel Temer também, mas o passado nefasto o golpeou e ele precisou ficou boa parte do mandato tentando salvar o próprio pescoço.
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Num convescote organizado em Lisboa, Dias Toffoli, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), disse, sem constrangimento algum, quando falava sobre sistemas políticos que no Brasil já funciona num modelo semipresidencialista “com um controle poder moderador, que hoje é exercido pelo Supremo Tribunal Federal. Basta verificar todo esse período da pandemia”. E seguiu o seu raciocínio tortuoso e criminoso: “Governar não é fácil no Brasil. O sistema presidencial tem muita força, mas o Parlamento é a centralidade, na medida em que é no Parlamento que se formam os consensos das elites regionais, sendo a Justiça sua fiadora.” (https://www.youtube.com/watch?v=sXso93sW7c4).
Que o Brasil tem um sistema político Frankenstein, é sabido.
No processo de elaboração da atual Constituição (promulgada em 1988), para ela foi contrabandeada toda sorte de elementos parlamentaristas, sem que os constituintes fizessem o serviço completo. Tanto que propuseram um plebiscito, para 1993, por meio do qual o povo iria se pronunciar sobre forma e sistema de governos.
No entanto, uma coisa é ter uma Constituição capenga, outra bem diferente é um ministro da corte constitucional admitir publicamente que o tribunal do qual faz parte atua em descompasso com a Constituição da qual é o guardião.
Claramente o ministro admite haver uma subversão da ordem constitucional. E o estranho é que isso não gerou maiores sobressaltos.