Covid-19: Aos 92 anos, médico escreve recomendações sobre pessoas idosas

06 de Abril 2020 - 08h33
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Os idosos estão no topo entre os grupos de risco neste momento de pandemia provocada pela Covid-19. Documento da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), subscrito pelo diretor do Instituto Envelhecer (IEN) da UFRN, Kênio Lima, trata desse assunto cada dia mais delicado e preocupante. Como contribuição, o médico e professor aposentado da UFRN, Celso Matias de Almeida, escreveu, de próprio punho, recomendações importantes a serem seguidas pelos idosos, mas também por quem está próximo deles. Aos 92 anos e com muita disposição, ele empresta seu olhar humanista para reforçar questões que vão além do cuidado contra esse novo vírus.

Assim como disseram os profissionais que assinam o manifesto da Abrasco, Celso Matias lembra que isolamento não pode reforçar a condição de solidão à qual estão submetidas muitas pessoas da terceira idade.  “Habitualmente, ou quase, as pessoas idosas já não se sentem capazes de executar certas atividades da vida diária em sua própria casa. Às vezes, até as que ainda podem fazer alguma coisa são impedidas por familiares que acham que elas precisam de repouso, porque já fizeram muito. Ao contrário, deverão ser estimuladas a colaborar”, diz o médico.

Em seu entendimento, deixar as pessoas idosas inativas contribui para a sua incapacidade física. Neste período de pandemia, Celso usa seu conhecimento acumulado para reforçar a importância de diminuição de contato desse grupo com pessoas mais jovens que possam transmitir para eles a doença, mas reforça a necessidade de se manter “um relacionamento humano cordial”. Sua preocupação é um alerta para os prejuízos psicológicos e sociais que os períodos prolongados de afastamento podem provocar, não apenas em idosos.

Com a tecnologia não há distância. Através de celulares, computadores e outros aparelhos eletrônicos é possível transmitir áudio e vídeo que podem ser compartilhados entre duas pessoas ou uma família inteira. Especialistas dizem que esse é um momento propício para se compartilhar esses serviços com as pessoas que não têm conhecimento ou trato com tecnologia. Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), por meio da Tecnologia da Comunicação e Informação da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), mostra que a parcela da população de idosos que usavam a internet cresceu 25,9% de 2016 para 2017. Prova que essas pessoas estão antenadas com as novidades digitais.

Saúde mental e cuidados físicos são essenciais para uma vida saudável. Isso ajuda a envelhecer com segurança e se manter saudável na terceira idade e isso Celso Matias entende muito bem. Professor aposentado de Fisiologia e de Semiologia Médica, na graduação de Medicina da UFRN, onde trabalhou de 1963 a 1995, ficou conhecido pelos alunos como “o homem da ética médica” e um incentivador da relação humanizada médico-paciente. Atualmente, Celso é uma das vozes constantes na Academia de Medicina do Rio Grande do Norte, provando que o interesse de colaborar com o mundo independe de tempo e idade.

Como bom médico, não perdendo o costume, Celso, ao final de seu manuscrito, deixou uma recomendação aos pares, mas extensivo aos parentes e cuidadores neste período de quarentena. “Uma alimentação saudável, estímulo e ajuda na atividade física, fazendo caminhadas diárias, certamente dentro de casa, hidratando as pessoas idosas, conversando com elas sobre sua experiência de vida, evitará suas tristezas. A residência deve permanecer ventilada, portas e janelas abertas, sempre tendo contato com os raios do sol entre 6h e 8h da manhã ou à tardinha, entre 16h30 e 18h”, recomenda Dr. Celso Matias.