Povo evita ser bucha de canhão, e campo vive letargia, diz Stedile, do MST

04 de Novembro 2019 - 08h48
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João Pedro Stedile, 65, um dos coordenadores nacionais do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), diz que a conjuntura política dos últimos anos levou a uma diminuição das ocupações de propriedades no campo. A preocupação com a violência, afirma ele, fez com que os trabalhadores rurais passassem a ter uma disposição menor para realizar este tipo de ação.

"Entramos em um período de letargia. Não é que a forma de luta [ocupação] foi abandonada, mas em cada região as massas vão analisando como se comportar para também não servir de bucha de canhão."

Em um plano maior, a classe trabalhadora brasileira pouco se mobilizou contra medidas e reformas realizadas pelo governos Michel Temer (MDB) e Jair Bolsonaro (PSL), mas, na visão de Stedile, isto pode mudar "mais dia, menos dia". "Certamente o povo brasileiro vai se levantar muito antes do que o Bolsonaro imagina", avalia. "Enquanto permanecer esse tipo de política, essa visão estúpida do [Paulo] Guedes [ministro da Economia], o futuro que nos aguarda é o Chile [em referência às medidas liberais na economia e às recentes manifestações populares contra o governo chileno]."

Para ele, Bolsonaro não tem base social nem nas Forças Armadas para cumprir a promessa de reprimir eventuais protestos no país. Não há diálogo entre o MST e o governo federal para o avanço da reforma agrária. Stedile diz que o movimento está do lado certo, e que o presidente irá "para o lixo da história".